home LP, MÚSICA Avishai Cohen – Casa da Música, 20/11/2018

Avishai Cohen – Casa da Música, 20/11/2018

Reza a frase feita, repetida à náusea nos textos sobre música e músicos, que se conhecem os grandes pela capacidade de se reinventarem, forma padrão para dizer simpáticamente que, ou o músico tem a capacidade de fazer constantemente coisas diferentes (mas não demasiado, para não cansar as mentes mais adormecidas – veja-se o exemplo recente dos crucificados Arcade Fire) que não aborreçam muito o ouvido comum, ou sujeita-se a ser colocado na prateleira dos esquecidos. No caso do Jazz, tal juízo é um absurdo, e aplicado ao contrabaixista Avishai Cohen, um total oxímoro. Cada concerto de jazz é por definição diferente, pois é de improvisação que falamos, e a mesma música, durante a própria interpretação é alterada in loco, podendo tomar os caminhos sonoros mais inesperados. Quanto ao israelita Avishai Cohen, cada vez que retoma as suas criativas composições, encontramos novos discos em cada solo, ideias soltas, piscadelas de olho a clássicos de vários géneros musicais, puro ritmo ou simplesmente o som claro que resta quando o ruído visual se desvanece. O concerto do trio de Avishai Cohen na Casa da Música não foi diferente, mas não faltaram novidades.

Integrado no festival Misty Fest 2018, Cohen trouxe consigo dois músicos inesperados, mas que fizeram toda a diferença. Elchin Shirinov no piano e Itamar Doari na percussão trouxeram um novo detalhe a todo o espectáculo. A rapidez de execução a que nos habituou ao vivo, deu lugar a um virtuosismo a espaços mais lento e calculado, com os músicos ainda a ambientarem-se às improvisações, em especial Shirinov, mas que permitiu apreciar com maior atenção cada composição, como se fosse a primeira vez. Já o toque mais diversificado da percussão de Doari deu uma bem vinda amplitude a temas familiares, como “Remembering” que fechou o concerto e a fantástica “Pinzin Kinzin”, em que soltou a imaginação para um solo surreal. Os álbuns Gently Disturbed e Continuo estiveram presentes por todo o alinhamento, para gáudio do público, mas algumas músicas novas do mais recente 1970 também soaram muito bem.

Para o final, já no segundo encore, ouvimos uma sempre actual “Come Together”, com Avishai a solo com arco e a conclusão veio com a versão cantada do tema “Puncha Puncha”, para gáudio de uma plateia rendida às evidências.

Contas feitas, com a novidade em primeira mão dada pelo próprio Avishai de que teria em breve passaporte português, e a certeza de que voltará em breve, é incrível receber músicos deste calibre em digressão por Portugal e numa sala como a Suggia da Casa da Música, porque elevam a fasquia para o que deve ser o jazz ao vivo, cujo som dos instrumentos diante nós, nenhum serviço de streaming ou gravação substitui. Concertos como este são únicos e irrepetíveis e, como tal, um privilégio para os sortudos presentes. Que volte rápido e com mais novidades são os nossos desejos. Obrigado ao Misty Fest pela escolha. Até para o ano.

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