home LP, MÚSICA NOS Primavera Sound (8/6/2018) – Luzes, cores, ACÇÃO! 

NOS Primavera Sound (8/6/2018) – Luzes, cores, ACÇÃO! 

Quando nada o faria esperar, num dos dias de programação mais bipolar dos sete anos do NOS Primavera Sound, o divertimento chegou de braço dado com a boa música.

Com vários motivos de interesse simultâneos, tornou-se impossível assistir a qualquer concerto na íntegra, sob pena de perdermos momentos preciosos. Depois de traçados os objectivos da noite, seguimos caminho.

The Breeders em temperatura tépida e desempenho de chá das cinco fora de horas não convenceram, e no Palco Seat esperavamos a redenção com os Grizzly Bear. Encontramo-los em modo cruzeiro. Sem chama, sem erro, ligeiramente entediantes até, apesar de trazerem consigo o excelente Painted Ruins .Entretanto já as meninas Ibeyi espalhavam charme e talento no palco Pitchfork, mas pelo caminho ainda nos cruzamos com os veteranos Shellac, detentores de lugar cativo desde a primeira edição deste NOS Primavera Sound, desta vez com direito a honras de palco secundário Super Bock. O público ocorreu à chamada e deparou-se com o humor cáustico de Steve Albini e as letras desconcertantes de uma banda mítica que continua a angariar públicos. As Ibeyi traziam um espectáculo despido, sem qualquer apoio para além das suas vozes e dos beats e instrumentações minimais das suas músicas. O público compareceu e as meninas cumpriram bem o papel.

Depois de um curto intervalo para repôr as forças, regressamos ao nosso circuito para ver Vince Staples no palco NOS. Apesar do convincente espectáculo visual, faltou chama ao rapper, apostando numa actuação sem rede naquele palco gigante, em que as rimas e as batidas não chegaram para justificar o destaque no cartaz. Atravessamos o recinto para conferir o fenómeno Superorganism no palco Pitchfork e demos o percurso por bem entregue. Entre o colorido visual e o absurdo naif das letras, o pastiche sónico deste colectivo ganhou asas e toda a gente acompanhava os refrões, confirmando as suspeitas de que seria um dos espectáculos da noite.

Depois de um animado compasso de espera, entre conversas e comes, chegou Thundercat, para provar que o virtuosismo não tem necessariamente que ser sinónimo de tédio. Acompanhado por dois músicos fabulosos (bateria e teclas), foi dono de uma actuação electrizante, com espaço e tempo para tudo. Diálogos com o público foram regra e a música sempre divinal. Drunk serviu de base ao alinhamento e o resto foi magia. Um talento monstruoso, de deixar a boca aberta, com um mero baixo de 6 cordas na mão. Kendrick Lamar e Kamasi Washington não dispensam a sua colaboração e os motivos são claros.

A$AP Rocky era o prato seguinte na ementa e, verdade seja dita, foi um pouco indigesto. Apesar da sua capacidade mobilizadora e inegável carisma, o espectáculo não convenceu, apesar de visualmente muito bem produzido. O rapper, tal como Staples, correu o palco sozinho repetidamente, numa tentativa de negar o óbvio: em 2018, a fama já não chega para ser cabeça de cartaz. Há que dar o litro. Faltou o extra que distingue o interessante do inesquecível.

Fever Ray é uma performer e produtora com tanto de misterioso quanto de imprevisível. Os seus discos misturam registos e a sua arte é frequentemente inqualificável, impossivel de arrumar numa prateleira definida. Aproveitando o factor surpresa, optou por um espectáculo carnavalesco, com todos os elementos em palco mascarados e coloridos, e um alinhamento explosivo e exemplar, a pedir palco principal e a garantir festa valente. Uma das melhores surpresas do festival.

Acabamos a noite com as estrelas Unknown Mortal Orchestra, e novo concerto de antologia, com direito a stage dive e comunhão próxima do público, que não arredou pé, apesar da hora tardia. Sex and Food teve os seus melhores temas em palco, mas os “clássicos” não faltaram, a terminar mais um dia para o álbum de memórias do NOS Primavera Sound.

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