Uma humilde gralha de natureza temporal estatelava-se por todos os pósteres afixados nas ruas, nos bares e nas paredes das universidades. No dia 2 de maio de 1980 – e não no dia 22, como tinha sido, equivocadamente, estampado – os Joy Division deram aquele que viria a ser o seu último concerto, no High …
Nesta estranha época em que o espaço se fechou e o tempo é líquido como num Dali, porquê correr atrás da novidade como se ela se dissolvesse no momento seguinte? Se há luxo que este “novo normal” permitiu aos privilegiados de que faço parte, é o tempo para pensar e escrever coisas aparentemente inúteis e …
Arne Dahl consegue um equilíbrio muito interessante de qualidade literária, um contraste forte entre paisagens límpidas e personagens calcinados, situações cativantes e um bom ritmo, tortuosamente verosímil.
A autora questiona (e questiona-nos) se, em tempo de luta pela sobrevivência, haverá ainda lugar para a intimidade e os afectos e que papel lhes estará reservado perante a privação.
Este não é um simples romance, porque as histórias que conta são reais e estas personagens foram homens como nós, com família, amigos, sonhos e perdas. É, por isso, um romance obrigatório, para não deixar no cair no esquecimento o mais negro episódio da ditadura portuguesa.
Sendo parte de uma obra dividida em três, já se antevia que parte da trama ficasse por contar, mas diríamos que quem não se identificar com este estilo de narrativa terá de dar luta às primeiras sensações, para poder, a final, tornar a leitura frutuosa.
Homenagem à Catalunha é um espantoso ensaio acerca de como os movimentos políticos de esquerda se permitem uma sectarização altamente perniciosa, capaz até de perder guerras (inclusivamente a do combate contra o fascismo). Demarcam-se duas narrativas aqui justapostas, ambas necessárias para compreender em profundidade este fenómeno. Primeiro, Orwell descreve com espantosa minúcia os horrores da …