O Teatro Nacional São João festejou 99 anos no passado dia 7 de Março. A efeméride não foi deixada ao acaso e a deixa foi aproveitada para apresentar à cidade o ambicioso plano para os festejos do centenário e para a próxima década. A dezena parece ser o número da sorte para o TNSJ, porque também são dez as ideias para a década que se avizinha.
Pedro Sobrado subiu ao palco para as detalhar, ilustrando-as à vez com uma foto simbólica, evocativa de personagens míticas da história da instituição, como o Sr. Pêra, ou momentos decisivos, como o que sobrou do incêndio do Real Theatro de São João (1908) e os esquissos do actual edifício, da autoria de Marques da Silva.
Nuno Cardoso, de improviso, definiu as traves mestras para o seu mandato e o que deve ser o seu trabalho: a sempre incompleta “descoberta de chaves de decifração poética da realidade”. Em seguida, fomos guiados por uma personagem (no nosso caso, a “Madame” de Maria Velho da Costa), pelas entranhas do Teatro, onde fomos brindados com curtos episódios de diversas produções marcantes do TNSJ e do imaginário de qualquer amante do Teatro, impecavelmente interpretadas, como A Gaivota de Tchékhov, Hamlet e A Tempestade de Shakespeare, O Doente Imaginário de Moliére ou A Voz Humana de Cocteau.
Num discurso entusiasmante e cuidado, o presidente do Conselho de Administração do Teatro Nacional São João Pedro Sobrado enumerou as novidades que pretende implementar, a curto e médio prazo, “um ponto de ordem” de que destacamos os pontos fulcrais. A continuidade complementada pela mudança, com respeito pela herança do passado mas despindo-o de qualquer peso reverencial, é o ponto de partida para este plano. Outro vértice é a assunção de que, para além de ser um “Teatro Nacional a Norte, para o Norte”, o TNSJ deve projectar-se para o público internacional de modo consistente, com um conjunto de eventos e um plano de digressões “sem paralelo”.
Para além do desígnio de actualizar/reparar equipamentos e reabilitar espaços em processo de obsolescência, pretende-se a criação de uma “companhia quase residente” para 2020, ano do centenário, mas que se mantenha posteriormente, retomando uma prática que cessou com a crise financeira, necessária à estabilização de repertório e a um planeamento mais alargado dos caminho futuros. Outro caminho abandonado por constrições económicas prestes a ser reabilitado é a ligação à União de Teatros Europeus e o fomento de “novas relações no plano externo,nomeadamente com países de língua oficial portuguesa”, começando por Cabo Verde.
Também no âmbito editorial, aproxima-se a criação de um novo selo Empilhadora, “uma nova colecção de livros nos âmbitos do ensaio, da biografia e das memórias”, que incluirá uma biografia essencial de Beckett por James Knowlson, assim como os Cadernos do Centenário, que coligirão escritos essenciais da memória crítica, gráfica, artística e aberta do TNSJ.
Ainda sobre a recuperação da memória desta instituição, está prevista para o segundo semestre de 2020 uma exposição dos 100 anos do São João, passo essencial para levar esse manancial de documentos históricos a um público mais alargado, contribuindo assim para a educação de novas gerações para as artes dramáticas.
Augura-se um resto de 2019 empolgante e um ano de centenário em que será difícil escolher entre tantos eventos de qualidade.
Foto © Susana Neves
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