home INTRO(missão) A generosidade é cool, dizem

A generosidade é cool, dizem

Somos bombardeades por discursos inócuos e cool sobre como viver, fórmulas vazias que prometem felicidade e à nossa volta só existem Better Help Shops. Não vivemos “tempos líquidos” como diria Zigmunt Bauman, vivemos tempos angustiantes. Não só “nada é para durar” como nos ensinam a viver em passividade com um regime capitalista, autoritário e emburrecido. 

Respire fundo, pratique mindfulness, seja produtive, tenha objectivos, não se desculpe! O problema é que nem todes têm a impressão de estar a viver em tempo real dentro do “They Live” do John Carpenter ou porque somos ingrates ou porque nos queixamos demasiado.

Dar a mão a outre com as devidas boundaries. Há tantas designações para as relações que nos esquecemos efectivamente do que são. Vemos pessoas a chorar no metropolitano, a serem agredidas à custa da fobia – mas não sujemos as mãos. O mundo é perigoso, mas se fizer a respiração quatro-sete-oito consegue alhear-se um bocadinho dessa fatalidade.

Ser generose em cool mas não em radical (já deve ser o nome de um workshop qualquer orientado para o aumento da produtividade de uma empresa qualquer). Pagamos e aplaudimos a salvação para a própria crise de cuidados que o capitalismo ajudou a criar. Não queremos que nos ensinem a criar awareness da nossa revolta de forma a silenciá-la, queremos rodar a faca enquanto sorrimos, numa casa que podemos pagar e num emprego (ou vários) que não seja precário.

Seja feliz.

Nota: esta crónica utiliza linguagem neutra e inclusiva.

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Rafaela Jacinto é artista, ativista e queer desobediente do teatro e da escrita. “A música está na minha cabeça” é o seu terceiro livro, depois de “Regime” (2020) e “Fiz uma coisa má” (2021), ambos editados pela Douda Correria. Nasceu em 1994, licenciou-se em Teatro pela Escola Superior de Teatro e Cinema (2016) e é especialista em História e Cultura das Religiões pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (2019). Estudou ainda Cinema Documental e trabalhou na última década com os realizadores Joaquim Pinto e Nuno Leonel.

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