A “Arte da Fome” tem por base uma obra de Franz Kafka, autor de obras emblemáticas como “O processo” ou “A metamorfose”, cuja densidade dramática inequívoca valeu várias adaptações para teatro.
Uma obra deste calibre, constituída por pequenos contos e outros textos, que encerram metáforas deliciosas sobre artistas (Primeiro Sofrimento, Primeiro Sofrimento e Josefine, a Cantora ou o Povo de Ratos.e Josefine, a Cantora ou o Povo de Ratos e Um Artista da Fome, considerado o conto mais autobiográfico de Kafka e de onde provém o título da peça) é de resgate difícil, e esta produção não foi excepção.
Uma obra deste calibre, constituída por pequenos contos e outros textos, que encerram metáforas deliciosas sobre artistas (Primeiro Sofrimento, Primeiro Sofrimento e Josefine, a Cantora ou o Povo de Ratos.e Josefine, a Cantora ou o Povo de Ratos e Um Artista da Fome, considerado o conto mais autobiográfico de Kafka e de onde provém o título da peça) é de resgate difícil, e esta produção não foi excepção.
Falamos de um trapezista, um artista da fome, que exibe o seu jejum numa jaula, ou a cantora que desiste do canto, e não podemos deixar de nos indagar sobre as angústias, incompreensões e a fragilidade destes interlocutores da arte. Os artistas, representados por artistas, artistas ao espelho, esmagados e esquecidos em tempo de crise, fustigados pela mutação frenética operada no mercado laboral pelo sistema capitalista. Uma escolha desta natureza é uma aposta de Carla Bolito, que só poderia merecer entusiástico aplauso.
No entanto, o aplauso chega frouxo. Não pelo texto, poético, profundo, acutilante. Não pela atmosfera decadente e solitária que nos propõem. Chega frouxo pelo ritmo dos atores que não amarram, que não se envolvem, que debitam sem alma, como se o texto não pudesse chegar-nos a menos que a atenção o quisesse muito e nos deslumbrássemos com as palavras que nos davam. Cláudio da Silva e Ivo Alexandre são atores com provas dadas, mas faltou-lhes alma. Talvez, poeticamente, pudéssemos dizer que a peça fala disso mesmo. Da alma perdida do artista, maltratado pelo sistema. Ainda assim, parece pouco este exercício retórico. Faltou dialética com os nossos lugares. Ali estávamos, passivamente sentados, a observar um universo distante, numa sala perfeita para que a distância não fosse tão grande.
A sala Mário Viegas, do Teatro São Luiz, recebeu a “Arte da Fome” e deixou-nos o entusiasmo amputado, mas fica o agradecimento pela escolha do texto. Saímos, talvez não todos, com vontade de o ler, ou reler, e descobrir, em silêncio, angústias que são dos artistas e de todos nós. Faltou o resto.
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Joana Neto, por defeito profissional, escreve de acordo com o novo desacordo ortográfico.
Foto © Estelle Valente