A Metamorfose – Franz Kafka (Livros do Brasil, 2018)

A leitura e releitura desta novela revela até que ponto foi eloquente a carta que, em 1922, Kafka escreveu a Max Brod, em que afirmava com uma clareza fria como gelo, cortante como o fio de uma faca (Nabokov descreveu o tom da escrita de Kafka como «preciso e formal» [Aulas de Literatura]): «Toda esta escrita não é outra coisa senão a bandeira de Robinson no ponto mais alto da ilha.» (p.21) A Metamorfose ocupa um lugar só seu, um pódio indisputado. Porque a corrida foi solitária, e ninguém ganhou. Só a perda, a desolação e o desespero ficaram, ex aequo, em primeiro lugar.

Uma Vindicação dos Direitos da Mulher – Mary Wollstonecraft (Antígona, 2017)

Defesa intransigente da emancipação feminina, Uma Vindicação dos Direitos da Mulher é um longo libelo contra um estado de coisas que a mera inércia, a passagem demasiado sossegada do tempo e o medo fizeram prevalecer. Que a sua acção faça ainda sentido, eis não apenas uma nota de intemporalidade de um clássico, mas a pertinência histórica de um legado ainda por cumprir integralmente: a condição feminina.

A Vida de Galileu – Palácio do Bolhão, 10/11/2017

A encenação de Kuniaki Ida deste clássico da modernidade segue os ditames disseminados pela obra dramática e teórica de Bertolt Brecht. Em vez de projectar uma ideia de verosimilhança «naturalista», que criasse aquilo que a tradição poderia chamar «ilusão cómica», as opções do encenador vão no sentido de um certo esquematismo. Deliberadamente, este posicionamento deixa …