A Zona de Interesse – Jonathan Glazer (2023)
A empatia e comoção suscitadas por um filme são efémeras e independentes do devir histórico. Quase oitenta anos depois da libertação de Auschwitz, o mundo comprova-o.
A empatia e comoção suscitadas por um filme são efémeras e independentes do devir histórico. Quase oitenta anos depois da libertação de Auschwitz, o mundo comprova-o.
Recordo em particular e não por acaso: ESTAMOS AQUI PARA TE IMPEDIR! Ide e gritai. Os irrepreensíveis atores esperam ouvir o vosso insulto. Mas é cá fora que ele terá efeito.
“Abraçamos a crítica através da analogia com o fascismo, mas repudiamos veementemente a performatividade das palavras antológicas de Celan – “leite negro da madrugada/bebemo-lo ao entardecer (…)” – através de urina recebida, com prazer, pelo perpetrador. “
O medo é, como em outros tempos, latente. A fera na selva, não contando uma história, é o medo em pequenas frases.
Mnémosyne é, desta forma, um espetáculo curioso. Expõe as fragilidades da experiência in loco, tão em voga, e da cultura obsessivamente testemunhal em que vivemos.
Poderia bastar a mágica interpretação de António Capelo e Paulo Calatré, respectivamente nos papéis de Sancho Pança e D. Quixote, para recomendarmos este espetáculo.
Bella Figura parte de dois eventos que se cruzam: o jantar romântico de Boris e Andrea, e o de aniversário de Yvonne, acompanhada pelo filho, Eric, e a esposa, Françoise. A interseção das duas situações dá-se, já profetizando o que aí vem, através de um atropelamento.
A importância de um livro como este nos tempos que correm é evidente: todos aqueles que consideram a via populista perigosa para os destinos da política mundial precisam de munir-se, em primeiro lugar, de argumentos. Isto implica, em segundo lugar, um posicionamento político. O que leva, em terceiro lugar, à necessidade de conhecimentos concretos sobre o contexto histórico da viragem do século XX para o XXI.
O tempo é substituído pela ordenação em pastas, o espectador observa-se na interação diária com o mundo digital, olha o seu reflexo e pergunta-se: Quanto de nós é já objeto?
Neste oásis atlântico de esquerda de 2018, a polémica soa extemporânea e a resposta à pergunta que Ribas fazia tem travo amargo: Serralves tem, neste momento, um museu cheio. Mas com quê?