Já lá vão alguns anos desde que os Capitão Fausto se mostraram ao público português pela primeira vez (aproximadamente nove). Contudo, parece ter sido o recém-nascido A Invenção do Dia Claro que veio reforçar a ideia do talento que anda por aí à solta. Entretanto, sem data específica, deixaram de ser promissores e passaram a ser imprescindíveis no panorama musical nacional. E entende-se porquê.
O novo álbum saiu em meados de março mas as letras já estão bem decoradas e entoadas pela audiência. O Capitólio, sala fria e escura, cujas arestas não inspiram mais que uma garagem fechada, afinal até tem a capacidade de se ir adaptando ao longo do espetáculo. O jogo de luzes que começa fora de ritmo, acaba por ajudar ao ambiente de clube noturno lisboeta dos anos setenta. Só faltou a bola de espelhos. Mas foi só. Com o Domingos, o Francisco, o Salvador, o Manuel e, claro, o Tomás, estava tudo pronto para começar.
Foi um concerto especial desde o momento zero. Entre a audiência, estavam os pais e tio de Tomás Wallenstein que foram acompanhando as notas familiares e o calor provocado pelos bailados próximos e desajeitados dos seus vizinhos de plateia, bem ao ritmo de rock e blues.
A noite de seis de abril começou com a “Certeza” de que mais fãs seriam conquistados ao longo da noite. Uma breve apresentação de todos os elementos da banda abriu as festividades, ao ritmo tímido de “Faço as vontades”. Não houve “Teresa” e “Amanha tou melhor” veio muito cedo, o que poderia ter assustado os mais incautos. Ainda assim, quem foi acompanhando os concertos da mais recente digressão da banda, sabia que havia pequenas alterações à setlist, com o objetivo de ir adoçando o clube de fãs mais restrito. «Vocês são fixes» e «Sem público não há música», saídos da boca do vocalista, teclista e guitarrista, também ajudaram a essa sedução constante. E com as falinhas mansas de Amor, da nossa vida, continuaram.
O mistério do que faz uma boa canção parece ter sido desvendado a estes cinco músicos. A sua conjunção de letras e melodias prova que não há fórmula mágica, mas um labor criativo repleto de carinho e imaginação, que resulta em temas tão marcantes como “Morro na praia” ou “Boa Memória”, com que fecharam o espetáculo.
Ouviram-se muitos “Por pouco que me lembre do que acontecer / Eu sei que vai valer a pena / Não é preciso lembrar / Os meus amigos contam-me a história / Pra depois poder contar”. Por isso, ou não, eles foram, mas voltaram e com a mesma leveza com que brincam com as palavras e parecem encarar o seu próprio talento, terminaram com um encore que incluiu “Alvalade chama por mim” e um brilhante “Final”.
A quem ainda não teve oportunidade de os ouvir, ouça, porque ao contrário do que diz Boa Memória, mesmo que os amigos contem a história, estar lá, vai valer a pena!
Por defeito profissional, a Catarina Piñon Mendes escreve de acordo com o novo desacordo ortográfico.
Foto © Matilde Travassos
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