home LP, MÚSICA Capitão Fausto – Centro de Artes de Ovar, 24/1/2020

Capitão Fausto – Centro de Artes de Ovar, 24/1/2020

O quinteto Capitão Fausto, formado por Tomás Wallenstein, Salvador Seabra, Francisco Ferreira, Manuel Palha e Domingos Coimbra, iluminou o palco do Centro de Artes de Ovar durante mais de uma hora e meia, na passada noite de 24 de Janeiro. Interessa pouco enumerar os temas (ver alinhamento no final) que foram soando ao longo daquela noite fria, porém afectuosa, que começou tímida, mas foi em crescendo e comunhão de absolutos.

Havia uma promessa no ar de sorrisos mútuos, palmas e braços no ar. Uma multidão mesclada: jovem e madura, entusiasta, divertida e em uníssono, a espaços, entoava as canções com a mesma frescura, profissionalismo, sobriedade e comoção de Inverno da banda em palco que foi, progressivamente, brindando a audiência com solos de bateria, diálogos ternos, solos de guitarra viscerais, dois baixos num episódio inédito e teclas electrizantes. A temperatura estava amena e muito,muito encantadora naquela noite de Inverno. A emoção e a tonalidade das canções faziam-se sentir a cada acorde e surgia assim a musicalidade do mais recente disco A Invenção do Dia Claro, mas também dos restantes álbuns, nomeadamente Capitão Fausto tem os dias Contados (e que dias!), Gazela e também Pesar o Sol. Muito interessante ver o tipo de público fiel que segue e tem literalmente crescido com a banda ao longo dos anos, nos seus pequenos, mas ordeiros excessos, na sua cautelosa resposta ao convite de Tomás Wallenstein para se juntarem à frente de palco, na sua lealdade de mocidade que “não chegou ao fim”.
O concerto permitiu uma visita a sons mais pop e mais “infantis”, é certo, mas também a um som mais adulto e menos acessível, timbrado por um hermetismo q.b. notável e viciante, a piscar o olho a um público transversal ainda assim. O som revelou-se irrepreensível, a voz de Tomás límpida e a nitidez das suas palavras e dos seus companheiros embalaram-nos como se fossemos seus irmãos mais novos.

Destaque-se o trabalho de postura em palco – animais de palco mitigados, mas corpulentos: a ideia de acidentais “sombras chinesas” e minimalismo. Trabalho de iluminação incrível, cores primárias e “grandes planos”, silhuetas magistrais do quinteto, elegantes corpos harmoniosos. Física e química em diálogo omnipresente. Uma portugalidade simultaneamente retro e moderna. Um grupo de rapazes normais, cheios de alma, vulgo feeling, sangue, suor e “uma lágrima na alma”, mas de carácter enxuto. Que dá sempre a volta por cima. Entre o cool e o blasé, os Capitão Fausto constroem uma persona madura em palco assinalável: são confiáveis, não atravessam fios de navalha, têm uma segurança notável.
Longe de adoptarem uma postura de estrelato, humildaram o seu ego há muito, retribuindo, com toda a compenetração e através do trabalho, a dedicação e carinho do público. É entre sorrisos, diálogo ameno e num movimento de dádiva e recebimento que o espectáculo verdadeiramente se processa, numa comunhão que, naquela noite, convidava demasiado à comemoração comunitária de mais um dia de vida, entre a melancolia e o contentamento.
Em palco, comandaram as operações com as suas personas colocadas em ombros firmes, assumindo a responsabilidade da fluidez e da competência. Com uma carreira de cerca de dez anos, deram um concerto de inspiração soberba. A química entre os cinco elementos, reagentes perfeitos escolhidos de uma qualquer tabela periódica da amizade e da confiança, produziu uma noite que existiu apenas no universo paralelo varense, incendiando a chama das almas mais incautas. O Capitão é assim. Aprendeu a deixar-nos de rastos. Um casal no público comemorava a trigésima ida a um concerto da banda. Que se fuja ao cliché: Capitão Fausto não são um fogacho, serão filia. Não serão eternos enquanto durarem, serão causa final.
De uma generosidade atroz, após o concerto interagiram com o público que se manteve fiel, com paciência e afectuosidade. Entre a venda minimalista de merchandise, momentos humorísticos, têm mais do que competência e estabelecem-se, mesmo ao sabor do mais puro dos improvisos.
Sucesso? É dizer pouco. Infinito? Talvez. Há gente que anda a passar pior.

Alinhamento

Certeza
Faço as Vontades
Corazon
Sempre Bem
Semana em Semana
Dias Contados
Mil e Quinze
Tem de Ser
Flores do Mal
Pesar o Sol
Cortex
Amor a Nossa Vida
Outro Lado
Lameira
Amanhã Tou Melhor
Morro na Praia
Santana
Verdade
Boa Memória

Lentamente
Final

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