Entras agitado, explicas que afinal estavas a tocar na campainha errada. Ainda não fechei a porta e já te atiraste a mim, a beijar-me sofregamente. É bom, é óptimo, mas como vês recebo-te vestida e não na cama, como me pediste. Precisamos de falar, tu sabes disso. Digo-to algumas vezes, mas agarras-me e beijas-me com tanta força que mal consigo terminar uma palavra. Silencias-me com beijos, foges com carícias.
Rendo-me. Como parar-te, se há dois meses que não desejo outra coisa? Despes-te rápido, tão rápido que nunca consigo ser eu a fazê-lo. Quando dou por mim já estás a agarrar-me a vulva com firmeza, a dar-lhe palmadas, a estremecê-la – todo um rol de técnicas. Desconfio que as aprendes a ver pornografia.
Dominas a narrativa, impões-me o prazer. Fico presa, mas sabe bem. Fico tão presa entre os teus braços e os teus beijos que não consigo senão mexer a cabeça, e lamber-te num movimento único a pequena porção de pele ao meu alcance, entre o teu mamilo e a tua axila esquerda. Também eu quero apoderar-me do teu corpo, beijar-te o peito e a barriga, saborear o teu pénis.
Peço-te para me despires. Ficas impaciente com o meu macacão, que não sabes como tirar. “Está blindado!”, brincas. Sorrio, volto-me e dou-te instruções: dois botões pequeninos, agora o fecho. Acaricias-me rapidamente as costas, despes-mo. “Quero lamber-to”. E prontamente lhe tocas para mo dar, mas eu quero que te sentes, quero que te encostes e fiques bem confortável, quero comer-to devagar e descobrir com a minha boca cada pedacinho do teu pénis (digo caralho, queres?), cada gemido teu. Adoro-o. Gosto de lhe sentir o calor, de o contornar com a minha língua e ficar a beijar a glande, enquanto ouço o teu deleite.
Mas é uma tentativa vã. O teu ritmo é o da cafeína, das notificações no telemóvel, do relógio que dita as horas da namorada. Anda, vamos para o quarto, na cama temos mais espaço. Quero ficar em cima de ti, acariciar o teu pénis duro com a minha vulva molhada, a minha vulva molhada no teu pénis duro, enquanto te lambo ternamente os lábios e introduzo a minha língua na tua boca doce, suavemente. Suavemente, para te ouvir no momento em que to engulo com a minha vagina quente (digo cona, queres?), a palpitar numa nascente de água morna. Suavemente, até ficares todo dentro de mim, enquanto te agarro a nuca nua e observo o teu rosto em súplica.
“Fodes-me tanto!…”, dizes-me. E eu penso que gostaria de foder-te muito mais, gostaria de foder-te todos os dias, gozar assim do teu corpo até ficar exausta, servir-te até ficares esgotado de prazer. E digo-to: por mim, estava em cima de ti desde o Natal. Por mim, metia-te num avião para São Tomé e Príncipe e ficava a beijar-te durante uma semana, numa cabana de madeira junto à praia e na sombra da floresta, das aves, do calor tropicais. Por mim, vinha-me assim no teu caralho nu todas as manhãs, ao acordar.
Bem sei que não podes, bem sei que não queres vir-te já. Gostas de me conduzir a mais do que um orgasmo na mesma sessão de sexo. Servidão ou vaidade viril? Eu bem te peço para não travares, adoro orgasmos simultâneos. E, afinal, podes sempre dar-me os seguintes doutra forma. Como agora, que me convidas para levar a minha vulva à tua boca.
Hesito, nunca o fiz dessa forma. Incentivas-me, subo até à cabeceira da cama, a minha vulva bem aberta em cima do teu rosto. Olho para baixo e vejo um bigode de pêlos púbicos por baixo do teu nariz, vejo sempre um bigode no teu rosto quando estás aí em baixo, fica-te bem. Lambes, beijas, sugas, e é um banquete de prazer. Movimento-me em cima da tua boca, agarrada à cabeceira da cama: o rosto encostado à parede, a gemer de prazer para os vizinhos. E venho-me, mais uma vez. E venho-me, e venho-me, e o prazer não cessa, toda aberta na tua boca deliciosa, aos gritos na cama da minha irmã.
Vim-me tanto, meu amor, obrigada. Deixa-me ficar agora no teu peito, estou tão esgotada, quero fechar os olhos e ficar só assim com o cheiro, o toque, a temperatura da tua pele, enquanto te acaricio e te pergunto pelo poema que te escrevi e não gostaste, ou tiveste medo de gostar. Repito-to ao ouvido e entrego-to nos lábios, mas é demasiado para ti. Preferes lamber-me o ânus a ficar assim de alma despida, tão ligado a outra alma despida. Para evitares essa intimidade, penetras-me novamente, vens-te. Dizes-me que não cumpriste a tua promessa, que me devias ter dado três orgasmos. Como se a quantidade de êxtases do meu corpo fosse a medida da tua virilidade.
Vais à cozinha buscar água, voltas, estou sentada na cama. Bebo um pouco do teu copo e apalpo-te intrigada os testículos cheios, ao nível do meu rosto. Parece que não os esvaziaste, que retiveste o sémen no momento do orgasmo (chegaste a vir-te?). Não confias em mim. Não confias em mim quando te digo que podemos estar à vontade, e que quero que te venhas todo dentro de mim. Compreendo, talvez não devesse colocar-te nessa posição, onde te vês obrigado ora a confiar, ora a confessar-me a tua desconfiança. Ora a desconfiar sem mo confessar. Mas gosto tanto de saborear o teu pénis nu dentro de mim, sem aromas a látex, nesses momentos onde sei que não estou, efectivamente, no período fértil!
Não te comento nada, nunca tenho tempo. É um pensamento breve, que tem menos importância do que as questões para as quais preciso e temo a resposta, e que procuro agora em cima de ti, enquanto te beijo. Porquê? Porque é que me evitas, porque é que me magoas, porque é que não podemos gozar deste prazer com mais frequência e sem complicações?
Sim, compreendo que te sintas culpado, que tenhas receio de magoar e perder a tua companheira, o negócio, o dinheiro. A vida arrumada. Que te sintas mal. Mas quando eu soltar estas lágrimas contidas, parentes de todas aquelas que me inundaram nestes meses de frustração e saudade, não me atires com essa resolução a resposta que já custa tanto ouvir. E não a repitas enquanto me agarro a ti, atormentada. Porque entre todos os momentos que tiveste para o fazer, este é o menos indicado. E o tom assertivo e frio, o menos apropriado.
Porque ainda há pouco fundíamos os nossos corpos numa oferenda de afecto e luxúria, nesta mesma cama manchada do óleo que usei para te massajar o ânus, enquanto gemias de surpresa e volúpia. Porque daqui a nada, encolhida em choque naquele sofá, com os olhos inchados da mágoa e enquanto vestes os teus calções leves de linho, em gestos tímidos e nervosos, vais apetecer-me tanto. Porque daqui a nada, vou desejar ser esse tecido que te abraça as nádegas e o sexo, vou desejar despir-tos antes mesmo de os abotoares, engolir-te o pénis, agarrar-me às tuas nádegas e reter o teu corpo aqui.
Porque não podes subtrair-te repentinamente a esta fantasia que construímos juntos, e onde procuramos, afinal, algo que está em falta nas nossas vidas arrumadas. Pois se sonhámos uma refeição inteira e apenas comemos a entrada!
Por isso, não queiras arrancar significado a esta relação para seguires com a tua vida, porque é o próprio significado da vida que intentas tirar. Não me digas que é errado e que não queres mais isto, porque os nossos beijos sabem a certo e tu gostas tanto que fique em cima de ti a foder-te, deslumbrada.
Se ainda não tomámos o banho de imersão à luz das velas, nem espalhei o pequeno-almoço no teu corpo para o lamber todo de seguida, tão devagar! Se ainda não dançámos uma canção inteira, nem desenhei deliciada o teu corpo nu, enquanto dormes! Se ainda não passámos um fim de semana juntos a conversar, entre beijos e rum, nem acordámos abraçados no silêncio de uma casa rural!
Por isso, quando estas lágrimas turvarem inesperadamente os meus olhos e eu abafar o soluço para não te perturbar, não me atires com essa resolução, não fujas nesse impulso, não o repitas com assertividade. Porque aquilo que eu preciso neste momento é do teu abraço. Abraça-me apenas.