Os Dead Combo foram um dos nomes grandes do cartaz do Festival A Porta. Na sua quarta e maior edição até à data, o Festival A Porta decorreu em Leiria, entre os dias 16 e 24 de Junho de 2018, propondo à cidade e aos seus visitantes 130 actividades, com um programa multidisciplinar. Criado para dar vida às zonas esquecidas da cidade, segundo a organização, o seu objectivo principal é o de crescer e funcionar durante todo o ano, envolvendo o público com a vida cultural e artística, num conceito de descentralização de palcos e desconstrução da ideia pré-concebida de espaço próprio e reservado a espetáculos, com apresentações em casas particulares, por exemplo, de portas abertas a quem queira participar.
Cerca das 21h40m, do dia 21 de Junho, Pedro Gonçalves e Tó Trips, acompanhados por Alexandre Frazão (bateria), Gui (saxofone) e António Quintino (contrabaixo e guitarras), subiram ao palco do Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria, para nos apresentar o seu último trabalho – Odeon Hotel – o sexto de originais e o primeiro desde A Bunch of Meninos (2014).
A música dos Dead Combo tem já lugar reservado na história da música portuguesa. Quando surgiram em 2004, criaram um espaço novo e único, com fado, mariachis e westerns, jazz e estrépito rock’n’roll, África e as Caraíbas.
Em 2018, ainda que a música feita pela dupla continue com um pé no passado e a guitarra com o toque português continua a ser rainha nos temas, depressa percebemos, sem espaço para dúvida, que este Odeon Hotel é um trabalho mais rock, com a bateria como instrumento principal (magistralmente tocada por Alexandre Frazão, músico com carreira dedicada principalmente ao jazz e à música improvisada, tendo colaborado, entre outros, com Maria João e Mário Laginha, Bernardo Sassetti, Carlos Martins, Laurent Filipe, Rodrigo Gonçalves, Carlos Barretto, entre tantos outros e que, pela sua versatilidade, é frequentemente solicitado para gravar com músicos de outros géneros musicais).
A música dos Dead Combo acompanha, de resto, a evolução da capital (o hotel do título é, claramente, a cidade de Lisboa de hoje), musa inspiradora da dupla, cada vez mais globalizada.
Das viagens iniciais no Peugeot 106, até aquele momento em Leiria, muitos anos se passaram. Os Dead Combo estão cada vez menos sozinhos e este Odeon Hotel, produzido por Alain Johannes (que já gravou com PJ Harvey e Queens of the Stone Age), apresenta-se mesmo como um trabalho de banda, que vagueia entre diferentes estilos e latitudes, do blues ao fado, passando pelas mornas de Cabo Verde ou pelo flamenco.
Após levantarem os lençóis brancos que cobriam os instrumentos, acomodados nos respectivos lugares, os músicos fazem check-in no Odeon Hotel com “Deus me dê grana”, o single de apresentação do álbum..
“Mr. and Mrs. Eleven”, “As quica as you can”, “”Faduncho”, “Egyptian Magycian” (dedicada ao amigo Zé Pedro e uma referência à frase «hey love, this is the egyptian magician» com que aquele iniciava as gravações que depois tinham uma seleção que fazia e oferecia aos amigos) seguem-na e ilustram bem a diversidade presente na música dos Dead Combo.
Naturalmente, ao longo do concerto não faltaram os clássicos como “Esse olhar que era só teu” (dedicado por Tó Trips a «todos aqueles que perderam os amores da vida»), e “Lusitânia Playboy” (a clássica história de dois amigos, amantes de jazz, que numa noite de copos no renovado Cais do Sodré, descobrem que o amor frequentemente tem ligação directa à ponta de uma navalha), com Alexandre Frazão e a sua bateria frenética (totalmente em casa no registo jazz), a roubar por momentos o espectáculo.
Após o encore, o concerto terminou em apoteose com “Lisboa Mulata”, de 2011, e uma ovação que durou largos minutos, oferecida aos músicos pelo público, que naquele dia aceitou entrou no Teatro José Lúcio da Silva, transfigurado em Odeon Hotel, por uma – curtíssima, diremos nós – hora e meia.
Foto © Rafael Silva
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