O Teatro Aberto recebeu na sua Sala Azul a peça Doença da Juventude, de Ferdinand Brukner, na versão de Marta Dias, igualmente responsável pela dramaturgia e encenação.
A peça abre com umas imagens da vida selvagem, uma corsa a ser comida por uma matilha de hienas, que nos pareceu chocante e sem grande propósito, mesmo forçando a analogia de que, todos somos caça ou caçadores, que também na vida urbana a vitória contempla os mais fortes.
O cenário, da autoria de Marisa Fernandes, é rico, apelativo, com cores exuberantes que retratam bem um apartamento de jovens, ainda que com alguns excessos ou elementos menos conseguidos, como uma espécie de “vending machine” que dispensa refrigerantes (porque não um frigorífico?) ou um veículo tipo simulador, que não é aproveitado em nenhuma das cenas e que por isso se torna apenas mais um elemento sem qualquer finalidade ou utilidade cenográfica.
A história apresenta-nos um grupo de jovens universitários e a preparação da festa de licenciatura de uma das personagens – Maria. Em torno dos amores e desamores, das rivalidades consequentes, dos protótipos mais ou menos conseguidos de diferentes perspectivas de futuro e modos de estar na vida, pretende a narrativa debruçar-se sobre a fragilidade dos crentes, o desencanto dos inteligentes, a inevitabilidade dos predadores, a força dos ambiciosos, formas ainda incipientes mas já determinantes nas atitudes de quem ainda é jovem e se prepara para encarar «a vida a sério».
O guarda-roupa, a cargo de José António Tenente, é rico, com algumas peças que traríamos de bom grado para o nosso próprio «closet» e outras que, de tão fora da caixa, garantem cor e um ambiente de festa bastante juvenil. No entanto, a utilização do guarda-roupa pareceu-nos por vezes pouco coerente, como por exemplo quando Isabel, uma jovem aluna de medicina, sai para ir para um exame trajada como se fosse para uma discoteca.
De resto muitos dos elementos são excessivos, pouco conseguidos ou talvez mal aproveitados. Disto é um exemplo o microfone verde, que as personagens aleatoriamente utilizam, sem que se perceba o que se pretende com essa mesma utilização, os espaços preenchidos com dança, a aparição de uns figurantes enquanto Maria canta, e em geral todas as coreografias, que apenas servem para preencher intervalos sem que representem qualquer mais-valia ou significado.
De entremeio, fala-nos a peça sobre muita coisa, mas a fundo sobre coisa alguma: a racionalidade de Irene, a depressão de Isabel, a rectilínea personalidade de Maria, os bons moços, os bons viventes, os oportunistas e manipuladores, os fortes e os fracos, a eutanásia, o suicídio, o encanto e o desencanto da juventude. Uma doença – diz o título. Porquê uma doença? Ficou por demonstrar.
O trabalho dos actores é muito bom, e justifica toda a peça, sobrepondo-se à fraca mensagem, ao texto que não permite dar espessura a nenhuma das personagens, aos momentos de «variedades» que nada acrescentam. De resto, ficámos felizes por ver uma sala cheia de espectadores, sinal de que o Teatro está vivo e recomenda-se.
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Foto © Filipe Figueiredo