aprendi a gostar de domingo depois das seis desde aquele dia em que, sem dar por ele chegar, passei a apreciar todas as prateleiras onde pousa o silêncio da casa quieta. sem pressa que a voz do rádio anuncie o número um da tabela e a máquina do café filtre a última gota e o hugh grant beije, por fim, a julia roberts pela enésima vez na televisão, que sempre legenda a distracção, enquanto a vizinha do terceiro esquerdo frente – janela fora – resgata a roupa do estendal.
pachorrentas as tardes a conforto e afecto do vento norte de ainda há pouco e rota da seda com açúcar, por favor – testemunha principal da apatia da mesa ao lado, que me leva a crer que ninguém deveria falar de desamor a beber o domingo depois das seis no nosso canto sintra saudade predilecto.
-Ana Félix