O meu nome é Bunda, Jaime Bunda! Este James Bond angolano, fã incondicional dos filmes e livros policiais americanos, é o herói deste Jaime Bunda e a morte do americano que, com imensa graça, nos envolve na investigação das circunstâncias da morte violenta de um cidadão americano residente em Benguela, que ganha proporções políticas preocupantes.
Jaime Bunda é enviado de Luanda para se encarregar da averiguação e assume com perspicácia o seu papel enquanto nos revela as subtis fraquezas do ser humano, os pés de barro do superagente, sempre de modo hilariante e soberbamente humano.
Paralelamente coexiste uma história de amor entre um assaltante de comboios e uma prostituta, que culmina por se enredar nestoutra, e que reforça no leitor o olhar complacente e terno pelos que, nesta obra, são heróis não o sendo, são, aliás, o seu perfeito oposto.
Pepetela diz-nos, na «Nota Final do Autor», ter recriado nesta narrativa factos ocorridos nos anos 50 relacionados com o falecimento de um engenheiro português e a morte numa cadeia de um assaltante de comboios, vítima de maus-tratos.
As proezas de Jaime Bunda, sobretudo as gastronómicas, encantam-nos e qualquer dos dois finais propostos pelo Autor nos serve (enfim, talvez mais um que outro!) e a aposta nos contrastes entre os meios americanos e a falta de meios desta Angola de Pepetela, são o sal e o gindungo que apaladam esta aventura.
«A ianque deve ter sentida súbita repulsa, vinha de um país onde os cães de estimação já andavam com computador na coleira para não se perderem e neste comando ainda usavam máquinas do tempo do Perry Mason.».
Fica uma nota especial para o narrador, que luta estoicamente contra si próprio para manter a neutralidade o que nos oferece passagens deliciosas de humor.
Resta reconhecer que o jovem Jaime Bunda, «cheio de futuro, embora de invulgar traseiro e invejável apetite» em tudo suplanta o seu quase homónimo e famoso espião britânico.
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