Joana Espadinha descobriu uma verdade evidente para qualquer artista e fez um álbum para celebrar essa revelação. O Material Tem Sempre Razão (Valentim de Carvalho, 2018) é mais do que um título estranho e desenquadrado, como a própria cantora explica antes de entoar o tema título. A sua voz, a música que fez, o seu caminho na indústria musical, sempre colada ao Jazz, trouxeram-na a este novo disco com uma vontade reforçada de se libertar dos rótulos que facilmente se colam a uma artista digna desse nome, em que as expectativas pesam, assim como a preocupação em vender discos e criar públicos, deixando o seu espaço criativo e artístico tantas vezes para um plano secundário. Com a ajuda preciosa de Benjamin (Luís Nunes) nas consolas e de uma banda coesa, onde se destaca naturalmente o excelente guitarrista João Firmino, Joana Espadinha encarou o material que sempre a acompanhou (a voz cristalina e treinada para a amplitude que o Jazz estimula como nenhum outro estilo musical, as letras leves e trauteáveis) e decidiu deixar de se preocupar em tentar agradar. Deu o protagonismo à sua voz, mandou as convenções do que uma vocalista jazz pode ou deve fazer à fava e juntou-lhe o acompanhamento que ela sempre pediu: o Pop, que aqui tem ressonâncias bem presentes do french touch dos Air, ou da música mais baladeira e orelhuda dos 80´s, onde as teclas e a voz bastavam para fazer grandes músicas. “Tu tens de ser sincero”, aconselha-nos repetidamente no refrão, talvez porque agora essa sinceridade transparece em cada nota e em cada sorriso partilhado com banda e público.
A sala do Passos Manuel foi pequena para o público entusiástico que a compôs de forma bem simpática para uma quarta-feira, e para o som do palco (algo inconstante mas eficaz), que pede já locais maiores. Uma banda em forma, constituída por Nuno Sarafa na bateria, Margarida Campelo nas teclas e loops, Francisco Brito no baixo e o já referido João Firmino, foi a base perfeita para Joana Espadinha poder dar largas ao seu talento, com a voz impecável e sem medo de falhar nas notas mais difíceis. O seu conforto com o novo repertório foi evidente, com a interacção com a assistência a ser frequente, com coros ensaiados em duas canções e espontâneos nos excelentes singles de avanço ao álbum “Leva-me a dançar” e “Pensa bem”, repetidos no inevitável encore. Apesar de ainda bem frescas e acabadas de ensaiar, as músicas novas resultam muito bem ao vivo, o que tendo em conta as constantes harmonias vocais entre Espadinha, Campelo e por vezes Firmino não é tarefa fácil. O tempo trará outra liberdade para criar novos caminhos, mas o ponto de partida é sólido e augura o melhor.
Jogo das cadeiras
Leva-me a dançar
Mais uma estrada
Contramão
Vai ser melhor
Pensa bem
Mais uma estrada
Voo raso
Sem Emenda
O material tem sempre razão
Zero a zero
Qualquer coisa
Encore
Leva-me a dançar
Pensa bem
Foto ® Vera Marmelo
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