O regresso de Mallu Magalhães à Casa da Música não primou pelas surpresas e nada poderia ser mais reconfortante.
A Invicta recebeu-a como sempre faz, a empatia de concertos anteriores replicada e multiplicada. A brasileira de sorriso doce, quase emocionada, desdobrou-se múltiplas vezes em agradecimentos sentidos, quase incrédula com a multidão diante de si, “leda e triste” como a madrugada do nosso Camões.
“Triste” com o final da sua digressão Saudade (título do seu próximo álbum), um triunfo dividido por múltiplos concertos em todo o país, onde se apresentou a solo, com um alinhamento cujo denominador comum era conter as suas músicas favoritas.
“Leda” com a sala cheia, que a aplaudia ao menor pretexto, projectando o cuidado ambiente caseiro e de comunhão criado no palco, onde os únicos adereços, para além das guitarras, eram uma cadeira que poderia ter sido roubada da sala de estar dos nossos pais e uma mesa com uma garrafa de água. Instantâneos da urbe lisboeta sucediam-se sequencialmente na tela por detrás de si, acompanhados inicialmente pelo buliço sonoro do tráfego intenso, emulando amanhecer e anoitecer, como se o tempo se suspendesse na sua voz. “Tá bonito o cenário não tá? Pode não parecer, mas isto deu trabalho. Encontrar o sítio certo, tirar essas fotos”, contava ela, com um entusiasmo enternecedor e pueril, introduzindo a 2ª parte do concerto, em que interpretou “as músicas dos outros”.
https://www.youtube.com/watch?v=8ForhM1yBMUO concerto começou na penumbra. Foco branco frio em Mallu. Em pé, com um simples vestido alvo, sapatos rasos, cabelo apanhado. “Casa Pronta”, primeiro single do álbum cujo lançamento não tardará, abriu o espectáculo. A voz ainda vacilava, acompanhada do violão, com um encanto renovado a cada sílaba. A desafinação ocasional é mero detalhe, o palco gigante para a voz segura apenas pelo fio delicado do sentimento.
“Sambinha Bom”, do seu maravilhoso Pitanga, foi o aconchego perfeito para a noite já quentinha. Desta pérola de 2011 e do álbum homónimo da sua Banda do Mar (2014) saíu a maior parte do alinhamento da noite. Selecção certeira, com os grandes sucessos a entusiasmar o público e a motivar a eterna menina a dar o seu melhor.
“Chega de Saudade”, voz despida de adereços, interpretado totalmente a capella, foi um momento lindo numa noite com tantos outros. Um hino universal, mesmo eternamente repetido, nunca perde a sua magia e Mallu trouxe-o embalado, com todo o carinho, a uma plateia deliciada.
Depois da inevitável “Velha e Louca”, pouco se fez esperar o desejado encore. “Ainda bem que vocês pediram mais. Tenho aqui mais três músicas bem bonitas”, agradeceu novamente, entre gargalhadas de que a Suggia fez prontamente eco.
Para a despedida ficou Caetano, com a sua “Baby” e “Muitos Chocolates”, para provocar diabetes emocionais às centenas que, inconsoláveis, ficaram a pedir mais após o irreversível final.
Soube bem, mas soube a pouco, como um banho no mar cálido de água cristalina.
Queremos ouvir Saudade.
Alinhamento:
Casa Pronta
Ô Ana
Sambinha Bom
Me Sinto Ótima
Tchubaruba
Lost Appetite
Olha Só, Moreno
Chega de Saudade
2ª parte – “Músicas dos outros”
Janta
I Have Seen Her
Cena
Seja Como For
Mais Ninguém
Velha e Louca
Encore
Por Causa de Você, Menina
Baby
Muitos Chocolates