A véspera de Reis trouxe ao Centro Cultural de Belém a visita de Maro (Mariana Secca), no concerto de estreia da sua The Jukebox Tour, em que os espectadores são convidados a escolher o alinhamento a interpretar. Depois do concerto esgotado de dia 6 de julho no Capitólio, foi a uma Lisboa fria que Maro regressou, e ouvi-la é um pouco como regressar a casa.
Este espectáculo singular marca o início de um ano que poderá reservar muitas surpresas para os fãs da cantautora. Basta lembrar que, nos primeiros meses de 2018, lançou o seu primeiro álbum (dividido em três volumes – Maro Vol. 1, Maro Vol. 2 e Maro Vol. 3, só no segundo semestre do ano passado), seguido do seu primeiro EP “Mistake to Be Learned”, com o produtor norte-americano Blanda, do álbum Maro e Manel, com o surpreendente Manuel Rocha, e do seu segundo álbum a solo – It’s Ok. Se o concerto no Capitólio foi uma prova de vida, estreia do trabalho de uma vida de musicalidade, esta apresentação mostrou que Maro já não é apenas uma voz a ter em conta ou uma revelação.
A noite começou ao piano, palco na penumbra, dando o mote para o serão: intenso, emotivo, partilhado, com o tema “Mariana” a lembrar-nos que “Mariana, já não sais mais daqui”. Seguiu-se uma experiência musical plena com os vinte temas escolhidos pelo público.
Na primeira parte, assistimos à estreia de alguns temas do álbum Maro & Manel, com sonoridades quentes, portuguesas, a lembrar João Afonso e as nossas melhores guitarras. Com este dueto-estreia com Manuel Rocha, tão natural como se sempre tivessem cantado juntos, ouvimos o doce “Irmão”, acompanhamos o “Caracol”, e comovemo-nos com “Barco”, porque não há quem não tenha o “sonho de ir sem atracar”.
Quando o resto da banda se junta, já só esperamos o melhor: Tommaso Taddonio, no piano e teclados, Michael Decena no baixo elétrico, Carlos Miguel Antunes na bateria, e uma multifacetada Matilde Secca no coro e vários instrumentos, a provar que o talento “runs in the family”.
Os arranjos de temas mais familiares são agora mais complexos e maturados, renovando as composições. Com o álbum It’s Ok, integralmente em inglês, fechamos a primeira parte, sem perder o rumo. A sala permanece quente, a língua não hostiliza, há união entre os acordes, as palavras, o palco e o público.
Depois do intervalo, Mariana Secca retoma o seu triplo álbum de estreia. “Páro quando oiço o teu nome” enche a sala de certezas inabaláveis. A sua gratidão à família e em particular à Mãe, com “It will get better”, é também nossa, por tamanho dom, tão vivido e partilhado.
No encore, dois momentos a destacar: a voz de Matilde Secca, no dueto “Flying to LA”, numa clara cumplicidade, e o tema final “Não faz sentido”, com tanto de palavras simples como de murro no estômago: “não quero nunca/viver a fazer/o que não gosto/não faz sentido.
Como fazer justiça à nossa vivência deste concerto? Maro cativa-nos com a sua generosidade e entrega, criando um ambiente familiar em que esquecemos a formalidade do grande CCB e, sem aviso, nos envolve no conforto silencioso a que poucos aspiram com a sua voz e guitarra.
Foto © Jorge Simão
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