Em Dia Mundial da Dança e integrado no Festival Dias da Dança, o Teatro Nacional São João volta, depois de Antes que matem os elefantes, a dar palco à actualíssima e carregada de dramatismo temática das deslocações e migrações forçadas, em Muros, de Né Barros.
A coreógrafa, em cujo trabalho esta temática também não é nova, leva à cena um trabalho pleno de intensidade e simbologia.
Os limites territoriais. Os corpos sem forças. As vontades subjugadas. O grupo vencido pelo indivíduo, por sua vez novamente vencido pelo grupo, e assim sucessivamente, numa belíssima alegoria dos dias que vivemos. Os favores trocados, indizíveis… As marcas no corpo. As mãos em sangue. As portas que se fecham, os muros que se (não) transpõem. Perigosas jornadas marítimas. Infindáveis desertos percorridos.
Em off, um arfar entrecortado por palavras de Eugénia Vilela, Robert Desnos e Paul Celan, que se cruza com os jogos de sombras em fundo, num equilíbrio perfeito de torções e esquadrias, de intensidade e acalmia, de crueza e lirismo.
Coreografia ambiciosa, do ponto de vista físico mas também do ponto de vista técnico, e encenação competente, completada ainda pela colaboração de Ana Deus (sempre em off) e de Alexandre Soares (em palco com a sua guitarra eléctrica). A execução de Bruno Senune, Elisabete Magalhães, Flávio Rodrigues, Gonçalo Cabral e Joana Castro é irrepreensível.
Texto de Ana Rodrigues
Foto © Paulo Pimenta
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