home Antologia, LITERATURA O Caçador de Histórias/O Livro dos Abraços – Eduardo Galeano (Antígona, 2017/2018)

O Caçador de Histórias/O Livro dos Abraços – Eduardo Galeano (Antígona, 2017/2018)

Será invulgar o talento de Eduardo Galeano para as histórias curtas. Nascido em 1940 e falecido em 2015, o escritor uruguaio deixou uma obra extensa e abrangente. Da ficção ao jornalismo, da análise política à história, tornou-se numa das maiores influências intelectuais e artísticas além-mar.

O Livro dos Abraços chegou a Portugal em Março de 2018 pela mão da Antígona. Publicado pela primeira vez em 1989, foi escrito no exílio e ilustrado pelo próprio autor. Os textos curtos saltitam entre o real e o fantástico, há crónicas (contos?) sobre a banalidade quotidiana, sobre política, guerra, amor. Finda a leitura, talvez seja difícil encontrar-lhes um fio condutor para além da vontade ou da memória do autor, razão pela qual esta obra prima mais pela diversidade do que pela coesão temática ou estilística. Contudo, talvez possa ressaltar um particular pendor para as descrições e as lutas de quem vive no mundo sem poder, os “zés-ninguém: os filhos de ninguém, de nada”, aqueles “que custam menos do que a bala que os mata” (p. 71). “Onde se recebe o rendimento per capita? Há mais de um morto de fome a querer saber.” (p. 79), pode ler-se. Incisivo e concomitantemente onírico, assim é este Galeano de 1989. Afinal, o escritor escrevia “para aqueles que não me [o] podem ler. Os de baixo, os que esperam há séculos na fila da história, os que não sabem ler ou não têm como.” (p. 153).

O Caçador de Histórias, escrito em 2014 e publicado postumamente, chegou a Portugal por via da Antígona, em Setembro de 2017. Tal como o livro anteriormente referido, reúne breves textos (quase 250, entre relatos autobiográficos, ficção, ensaios reflexões várias), uma vez mais ilustrados pelo autor. Apostando novamente na micro-narrativa, é o primeiro texto que informa que “Os contadores de histórias procuram o rasto da memória perdida, do amor e da dor, que não se vê, mas não se apaga.” E são 254 páginas de memórias e fábulas, de vida, de episódios que lhe fizeram o caminho, de lugares onde o caminho se deteve. De resto, caberá ainda dizer que esta compilação de textos escritos por Galeano nos seus últimos anos é a única obra do autor que não foi revista com Eric Nepomuceno.

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