O Fim do Armário de Bruno Bimbi, jornalista e ativista LGBT, escrutina a realidade paradoxal entre noções de igualdade, liberdade, acesso, meritocracia, aceitação, respeito, informação, estereótipos, minorias, leis, política, religião, ciência e a incessante busca da saída do armário e abolição de alter egos fictícios impostos pela sociedade civil, Direito e ação estadual.
De forma pessoal, o autor apresenta-se como um contador de histórias por via do trabalho jornalístico, dando voz às mais diversas situações de descriminação, violência, desigualdade de oportunidade, e até mesmo a morte, sendo suicídio ou ódio/negação levada ao extremo.
Crítica sem medos o patriarcado, os fundamentalismos religiosos, a corrupção, a extrema-direita, a esquerda esquecida, a falta de ação governamental e leis, o “mau” jornalismo, a pequeníssima representação da comunidade LGBT no cinema, a inexistência de oportunidades de trabalho que não seja a prostituição no caso de pessoas transexuais, a desinformada interpretação de documentos religiosos, a própria linguagem e adequação aos tempos, o ódio como meio de propaganda, a adolescência roubada, a incoerência e farsa e outros numeramentos que se inserem dentro de um armário que se esforça para se abrir no século XXI.
Não abrevia fragilidades, nem consente o conformismo. É nu e transparente sem perder a pele que carrega. Fala por si e por todos aqueles que seguindo do título, e de bandeira arco-íris, lutam por mudanças, tal como se fez na rebelião de Stonewall em 1969.
Enfatiza o papel individual, das organizações, da ciência como importante vinculo para a aceitação internacional. Nomeia personalidades revolucionárias como Rosa Parker, Hannah Arendt e Margaret Atwood com o seu conto “ The Handmaid’s Tale”, distopia que carrega cada vez menos peso na genesis da palavra. E até parece que vivemos numa quando viajamos para países como o Irão, Tunísia, Arábia Saudita onde os castigos por “sodomia” são tenebrosos.
Retrata de forma próxima o Brasil, Venezuela e Espanha, mas não esquece o resto do globo. A mudança é global e não local. E que bem que ele fala das ditas minorias sem deixar de as engrandecer. Porque segundo ele, a percentagem da comunidade LGBT e heterossexuais é fifty-fifty e não reconhece-las é mentir a si mesmo, omitir, tal como acontece na política e Igreja por simples interesses.
Bruno Bimbi, feminista e homossexual assumido, transpôs no papel o que é, sem esquecer o caminho que percorreu, percorre e ainda é preciso percorrer. Desconstrói estereótipos, enraizamentos, desmistifica a sigla, a lei da identidade, o casamento igualitário, a ideologia de género e conceito de preferência sexual, porque não se escolhe, e o armário tem que desaparecer. A educação e informação não fomentam nenhum “kit gay”, mas o livro promove decerto a própria existência.
Que a heterossexualidade compulsiva deixe de castrar quem vive o mundo às cores.
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