Clyde Stubblefield foi um dos maiores bateristas da História da Música por diversos motivos.
Foi um das bases do sucesso avassalador de James Brown, acompanhando-o em anos chave da sua carreira (entre 1965 e 1971) e co-criando sucessos gigantescos do repertório do Funk, como “Sex Machine,” “Say It Loud – I’m Black And I’m Proud,” ou “Cold Sweat”.
No entanto, a sua influência estendeu-se bem para além destes anos de glória, com os seus padrões rítmicos inconfundíveis a servirem de base para muito do hiphop (e não só) que se fez desde os primórdios deste género musical.
O sample retirado do clássico “Funky Drummer” é provavelmente o mais utilizado na história da Música, havendo cálculos aproximados que o identificam em mais de 1000 gravações. Ora ouçam, por volta do minuto 5:22, se vos soa familiar aquela batida.
Antes de entrar na banda de James Brown, foi baterista de Otis Reading, mas durante a sua carreira com o Padrinho da Soul nunca recebeu os créditos devidos pelo seu papel essencial na sonoridade inconfundível do grupo.
A relação com Brown nunca foi das melhores, daí a sua efemeridade. Consequentemente, os royalties também nunca chegaram, apesar da utilização massiva que o seu talento teve em obras primas como “Fight The Power” dos Public Enemy, “Fuck Tha Police” dos NWA ou “Shadrach” dos Beastie Boys. Já para não falar na terrível“Return to Innocence” dos Enigma, por exemplo…
Ao vivo, o seu talento era ainda mais evidente, como se confirmar abaixo, no célebre concerto que James Brown deu no dia seguinte à morte de Martin Luther King, em directo na TV nacional, numa tentativa desesperada para evitar os motins que se aguardavam nas ruas. Ficou conhecida como “A Noite em Que James Brown Salvou Boston”, mas foi muito mais do que isso.
O malogrado Prince foi dos poucos que, segundo o próprio Stubblefield revelou em 2016, lhe estendeu a mão numa hora de necessidade. Confessando reconhecê-lo como um dos seus ídolos da bateria, quando soube que Clyde sofria de cancro e lhe começavam a faltar os fundos para o tratamento, doou-lhe cerca de 80000 dólares, apesar de nunca sequer terem trabalhado juntos.
Basta um grande mestre para reconhecer um seu par.
Clyde Stubblefield morreu dia 18 de Fevereiro. A sua música está nas almas e ouvidos de muitos milhões, sem que sequer se dêem conta. A História tem destas ironias…