:papercutz é uma banda de pop electrónica do Porto, formada e liderada por Bruno Miguel, o seu único membro permanente. Surgiu como um projecto de música paralelo à sua participação na banda de rock electrónico Oxygen e tornou-se na sua banda principal em 2008. Esta sexta-feira, dia 16 de Fevereiro, foram a segunda banda convidada do “Café Concerto/After Movie”, no CAE – Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz, e apresentaram-nos o seu terceiro álbum de originais, King Ruiner, com a nova vocalista Catarina Miranda, conhecida pelo seu projecto a solo Emmy Curl.
O concerto começou a horas, com cerca de três dezenas de pessoas na assistência, algumas já sentadas, outras a aproximarem-se aos poucos do palco montado no jardim interior do CAE. As melodias exóticas, criadas por sintetizadores analógicos e guitarra, sucedem-se e misturam-se em várias texturas com uma percussão tribal e uma, sempre presente, batida electrónica-urbana. Unindo todas estas camadas, surge-nos a voz de Catarina, melódica e etérea. Esta é, na verdade, o grande foco da música, apesar da multiplicação de efeitos em torno dela. Desdobra-se-se em harmonias à medida que vai brincando com a pedaleira, criando camada sobre camada, e ao coro que assim surge, vindo de “geografias não ocidentais” (com uma forte presença africana e japonesa), junta-se um forte grave que faz tremer o chão do jardim interior do CAE. Nas palavras de Bruno Miguel, os :papercutz apresentam-se como “uma banda que serve canções de base electrónica ocidental mas com especiarias de outras geografias”. E é isso mesmo que sentimos ao ouvi-los. Os cheiros e os sabores de outros lados do mundo estão bem presentes nas canções que nos oferecem.
As primeiras músicas passam a voar, sem interrupções nem pausas. Ou sequer silêncio. Apenas a batida da faixa seguinte. Os dois elementos da banda falam pouco e, por isso, raras são as faixas verdadeiramente anunciadas. Uma deles é o novo single, “All of the ways”. E percebe-se a distinção. É uma canção poderosa, com uma tensão constantemente presente. No início, somos levados pela voz onírica de Catarina, numa harmonia de vozes, que evolui e aligeira. Com uma maior presença da voz de Bruno Miguel, a música desenvolve-se em crescendo, até que, finalmente, a tensão se esfuma.
O concerto dura cerca de uma hora, em que os movimentos pouco variam: Catarina Miranda, grande parte do tempo ajoelhada junto à pedaleira, vai cantando e “re-cantando”, criando uma imensidão de vozes que enchem o espaço. Surgem ocasionalmente a guitarra e o sintetizador. A cooperação entre Catarina e Bruno é simples, e é notória a influência das vozes de Emmy Curl neste regresso às novas músicas dos :papercutz.
Já perto do final, mais descontraídos e sorridentes, e com a música a assumir tons mais majestosos, Bruno Miguel dirige-nos um desafio: quer que façamos parte de um dos coros. E assim acontece. Pelas artes mágicas dos processadores digitais, aqui nas mãos da maga Catarina, as nossas vozes passam a ser mais uma das camadas e o público, por uns breves minutos, é o terceiro elemento da banda.
A última música é o exemplo maior do concerto: um som enorme, abrilhantado pelos falsetes de Catarina Miranda, que, unindo tradição e modernidade num equilíbrio muito interessante, expande a nossa noção de espaço.
Mais um excelente concerto, a confirmar o brilhantismo da ideia da programação do CAE – Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz.
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Foto © Mónica Travessa