Numa das pequenas cenas cómicas que pontuam esta adaptação ao cinema de Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto (publicada em 1614, cerca de 30 anos depois da sua morte), o próprio escritor do livro de viagens se queixa de um outro, o Luís Vaz, o que faz poemas: para que serve a poesia? A verdade é que é Camões quem contemplam, até hoje, os louros nacionais, mas, como o filme demonstra, é Mendes Pinto, no século XVI, o mais moderno. A narrativa de viagem seria, para ele – supomos, porque a cena é uma das que João Botelho cria de raiz –, mais verdadeira do que versos como os dos Lusíadas, daí esta obra magistral o ser também pelo que tem de detalhe, de descrições de um mundo exótico aos lusitanos da altura, de um Japão e uma China e um mundo para lá da Índia imaginados por cá, mas carecendo de descrições etnográficas ou geográficas. É claro que, até hoje, persistem dúvidas sobre a veracidade das aventuras narradas, uma questão que o filme já incorpora. E começamos por aí. Botelho opta pela expectável mas sempre produtiva coexistência de dois extratos temporais: o tempo narrado, o da aventura, e o tempo da escrita do livro, posterior ao fim da ação narrada; o filme intercala então o jovem Mendes Pinto, aventureiro, traficado, vendido, Don Juan, cristão orgulhoso durante a viagem, com o adulto, já em Portugal, com mulher e filhas, obcecado por contar a aventura que os que o rodeiam teimam em desvalorizar. No que a este aspeto diz respeito, o filme é coerente de início ao fim (pese embora a funcionalização desta obsessão, em algumas cenas, ceda a alguma banalidade estereotípica, por exemplo na cena em que este é totalmente indiferente à bela esposa, Catarina Wallenstein, que, deitada na cama, lhe mostra os seios, em vão, enquanto este perora sobre as façanhas da viagem). Em tudo o resto, o filme tropeça por falta de um rumo.
Botelho anuncia, antes de o filme começar (a antestreia no Porto teve lugar no Teatro Nacional de São João, com presença do próprio e de alguns atores), que reduziu as mais de mil páginas a cerca de cem, e que, portanto, o filme é curto. Essa seleção é evidente, percebendo-se que há um conjunto de cenas da viagem de Mendes Pinto que cumprem a função de pequenos retratos de vários pontos de paragem. Esta é uma opção bem conseguida: proliferam os planos fixos, desde o coro – já lá vamos – num barco, a dormir, até ao desespero numa praia, depois de um naufrágio, encostados uns aos outros e a penedos, contando o que passara. Em cada uma destas cenas, há um objetivo claro: ser um objeto pictórico. Lembramo-nos várias vezes de Velásquez, a ação descansa e observamos a pintura na tela gigante. No entanto, falta um caminho que interligue estes quadros. Não apelaríamos a uma epopeia à la Hollywood, com um guião previsível de piratas a toda a hora dentro do barco, e com lutas de vários minutos com os antagonistas que surgem nos mares, mas, sendo que essas cenas existem de qualquer forma, não se percebe porque não articulá-las com o desenrolar da viagem de forma mais clara. Porque é de uma viagem que se trata, com origem e destino. E se há barcos e locais visitados – e aqui retratados – então o filme exigiria, a nosso ver, uma mais clara visibilidade do movimento, correndo, em não o fazendo, o risco de se tornar – como se torna – num filme algo ilegível sem o livro que lhe dá origem.
A telegenia de Cláudio da Silva enquanto Mendes Pinto, com potencial para se transformar num ícone visual de um Mendes Pinto aventureiro, é, então, diminuída pela falta de substância psicológica da personagem, que, a nosso ver, se prende com a indecisão de para onde levar o filme: é Peregrinação sobre um homem que se sente frustrado pela incapacidade de ascender socialmente, apesar de escrever um relato tão completo sobre o mundo que viu – um filme sobre Mendes Pinto, um filme sobre a pessoa? Ou é sobre mais um aventureiro da era dos Descobrimentos, que simboliza os perigos sofridos pelos Portugueses, enquanto povo – um filme sobre os Descobrimentos, Mendes Pinto uma redução metonímica do coletivo lusitano? Visto o esgotamento da segunda opção, teria sido uma boa ideia a primeira, mas parece-nos que o filme quer ser as duas coisas e acaba sendo sobre nenhuma, culminando num conjunto de retalhos do texto original, sem um objetivo que lhe seja exterior. O guião é pontuado pelos já referidos quadros e por imagens de grande beleza da natureza oriental, que, no entanto, são mera decoração contextual da topografia avistada no decurso da viagem – a que falha em ser mostrada claramente enquanto tal ao longo do filme.
Elogiáveis, portanto, tanto o trabalho de Luís Branquinho na imagem tão competentemente aproximada da pintura, como Luís Bragança Gil e Daniel Bernardes na música – residual, mas essencial a partir do coro que acompanha a viagem. Botelho avisara: não é um coro grego, visionário de uma tragédia, nem é um coro brechtiano, que apela à consciência do espectador. É o coro dos homens que navegam junto com Mendes Pinto, que narra a história, a partir de “Por este rio acima”, de Fausto Bordalo Dias (1982), com um efeito belíssimo na singularidade de cada um dos quadros, mas sem encaixe narrativo perante o texto original utilizado sem um rumo bem definido. A personagem de Cassiano Carneiro, excelente enquanto tradutor e intérprete para Mendes Pinto, indicaria um caminho autóctone para as personagens, que, de modo geral, não existe, observando-se até alguma dispersão que não adiciona valor narrativo ou estético ao filme (a conversa, em certo momento, de dois fidalgos espanhóis, por exemplo, parece apenas querer mostrar que se fizeram filmagens no Convento de Cristo de Tomar).
Resta, apesar de tudo isto, saudar a existência do filme, e a insistência e coragem de João Botelho em passar à tela obras fundamentais da literatura portuguesa, como foi o caso de “Os Maias” (2014) e “Filme do desassossego” (2010).
Por defeito profissional, Luis Pimenta Lopes escreve de acordo com o novo desacordo ortográfico.
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Não sei se já terá chegado ao seu conhecimento, que uma grande parte das cenas do filme de João Botelho são do meu romance O Corsário dos Sete Mares, que não existem na Peregrinação, mas que o cineasta tem referido nos media como sendo da obra de Fernão Mendes Pinto, que ele parece desconhecer. Ele mesmo admitiu o plágio num email à editora Leya. Fazer passar ao público, sobretudo aos estudantes, o meu romance como sendo da autoria de Pinto é uma fraude. E Botelho usou para o seu guião não a Peregrinação, mas o meu romance, atirando poeira aos olhos dos jornalistas e críticos que não conhecem a minha obra.
Admirei-me que o realizador, querendo usar o meu romance, nunca me tivesse contactado por qualquer via, nem à editora Leya, a fim de pedir autorização para o fazer, a qual lhe seria dada sem hesitação e sem encargos. Bastar-me-ia a honra de fazer parte do seu projecto.
Ao cotejar o filme de João Botelho, com a obra de Fernão Mendes Pinto e com “O Corsário dos Sete Mares – Fernão Mendes Pinto”, verificamos que:
1. As cenas do filme que não constam do meu romance são as da morte de Pinto, as com a mulher e filhos, pois no meu romance acaba quando ele ainda se encontra no Oriente, nas missões com os jesuítas. Tal como a cena das “mantas” voadoras”.
2. As restantes cenas e personagens femininas, exceptuando a rainha da Etiópia, não existem na “Peregrinação” de FMP, são do meu romance, inventadas por mim ou ficcionadas a partir de sugestões do original ou fruto da pesquisa que fiz em documentos portugueses e do Oriente.
3. Não existe nenhuma violação, por António de Faria, na “Peregrinação”, como Botelho afirma que há, numa das suas entrevistas. A violação está no meu romance, embora praticada por Pinto – refere-se ao cap. 47 da sua obra, o episódio da «noiva roubada», que é levada com os irmãos meninos para ser vendida ou resgatada por dinheiro, como era costume. Como o seu destino ficava em aberto eu parti deste episódio para ficcionar uns supostos amores de Pinto que a compra aos companheiros e, despeitado pelo seu desprezo, acaba por a violar, algum tempo depois, no barco. Botelho seguiu o “guião” do meu livro, embora com alterações.
4. A personagem da amante chinesa, assim como o seu nome Meng e os seus amores, inventei-os eu no meu romance, a partir da menção feita no livro de Pinto (cap. 116) aos filhos do português Vasco Calvo – «dois meninos e duas moças”. A cena do filme, em que «Meng», com uma bacia de água perfumada com pétalas de flores, a lavar as cicatrizes das chicotadas que Pinto tem nas costas, é um dos episódios do meu romance que considero melhor conseguidos (a sua foto tem sido reproduzida na maioria dos jornais). A única diferença é que João Botelho coloca a cena em Pequim e não na aldeia junto à muralha da China, onde vivem os condenados a trabalhos forçados.
5. Em Pequim, as cenas da moça que toca, canta e convive com Pinto, ensinando-o a ler mandarim. Nada disto existe na Peregrinação, inventei esta personagem e estas cens, incluindo poemas e canções chinesas, de que fiz a tradução, criando de raiz a personagem filha do «monteo» (o capitão chinês que vai levar Pinto e os companheiros para a Muralha). Na obra de Pinto há apenas uma referência à “mulher do monteo”.
6. As cenas das prostituas também não existem na Peregrinaçã, inventei-as para criar episódios cómicos com elas e com Cristóvão Borralho. A fala da prostituta sobre a influência do Yin e Yang no sexo, a menção ao Mercado dos Cavalos Magros são do meu romance.
7. Na obra de FMP, nos episódios do Japão, não existe qualquer referência ao suposto casamento de Fernão ou de Zeimoto, nem a Wakasa, que eu encontrei em outras fontes japonesas, depois de grande pesquisa. Ficcionei a história desse casamento, com a ida da personagem ao barco, fazendo dela uma espécie de Madame Butterfly avant la lettre.
8. No filme, Fernão narra a sua 1ª viagem, ainda adolescente, quando servia em casa de uma senhora e teve de fugir para salvar a vida. Apenas isto. Os amores adúlteros e o assassínio de Dona Joana Aires da Silva e de Manuel Freire, o amante, são do meu romance, cuja fonte foram arquivos sobre um escândalo da época. Botelho leva este episódio para o seu filme, embora fazendo de Pinto um segundo amante, a quem a senhora pede que leve um recado … ao amante Manuel Freire.
9. O realizador absorveu ainda outras ideias do meu romance expondo-as como suas: numa das entrevistas, refere-se à magia do número nove, que é um leitmotiv no meu romance.
10. Há ainda outros aspectos, que só podem ser detectados por quem conheça bem os dois livros, como a sequência dos episódios ou juntar as duas viagens a Sumatra num único episódio, como eu fiz.
11. Assim, também me custa a crer que, tendo eu no meu romance as mesmas cenas explícitas da Peregrinação (com textos originais, no início de cada capítulo), Botelho e a sua equipa, depois de terem copiado as inexistentes, tenham tido o trabalho de procurar as das lutas e afins, na imensidade de cenas confusas da obra de Pinto, quando as tinham no meu livro já prontas, com diálogos e tudo.
É já de domínio público que João Botelho adaptou, sem a devida permissão da autora e da editora Leya, no seu filme Peregrinação, uma parte do romance de Deana Barroqueiro, “O Corsário dos Sete Mares”, com a agravante de referir nos media as inúmeras cenas deste livro, como se fossem da obra de Fernão Mendes Pinto. Botelho admitiu o plágio num e-mail da Ar de Filmes para a editora, porém, continua publicamente a insistir no logro, não dando créditos à autora da obra que lhe serviu de guião. Assim, o filme não pode servir de introdução à obra de Fernão Mendes Pinto, como proclama o cineasta,, porque grande parte das cenas não existem na obra renascentista, mas tão só no meu romance.
Ao cotejar o filme de João Botelho com a “Peregrinação” de Fernão Mendes Pinto e com “O Corsário dos Sete Mares”, verificamos que:
1. As cenas do filme que não constam do meu livro são as da morte de Pinto e as da mulher e filhos, tal como a cena das “mantas” voadoras”.
2. As restantes cenas e personagens femininas do filme, exceptuando a rainha da Etiópia, não existem na “Peregrinação” de FMP, são do meu romance, inventadas por mim ou ficcionadas a partir de sugestões do original ou fruto da pesquisa que fiz em documentos portugueses e do Oriente.
3. Não existe nenhuma violação, por António de Faria, na “Peregrinação”, como Botelho afirma que há, numa das suas entrevistas. A violação está no meu romance, embora praticada por Pinto – refere-se ao cap. 47 da sua obra, o episódio da «noiva roubada», que é levada com os irmãos meninos para ser vendida ou resgatada por dinheiro, como era costume. Como o seu destino ficava em aberto eu parti deste episódio para ficcionar uns supostos amores de Pinto que acaba por a violar, algum tempo depois, no barco. Botelho seguiu o “guião” do meu livro, embora com alterações.
4. A personagem da amante chinesa, assim como o seu nome Meng e os seus amores, inventei-os a partir da menção feita no livro de Pinto (cap. 116) aos filhos do português Vasco Calvo – «dois meninos e duas moças”. A cena do filme, em que «Meng», com uma bacia de água perfumada com pétalas de flores, a lavar as cicatrizes das chicotadas que Pinto tem nas costas, é um dos episódios do meu romance que considero melhor conseguidos (a sua foto tem sido reproduzida na maioria dos jornais). A única diferença é que João Botelho coloca a cena em Pequim e não na aldeia junto à muralha da China, onde vivem os condenados a trabalhos forçados.
5. Em Pequim, as cenas da moça que toca, canta e convive com Pinto, ensinando-o a ler mandarim. Nada disto existe na Peregrinação, inventei esta personagem e estas cens, incluindo poemas e canções chinesas, de que fiz a tradução, criando de raiz a personagem filha do «monteo» (o capitão chinês que vai levar Pinto e os companheiros para a Muralha). Na obra de Pinto há apenas uma referência à “mulher do monteo”.
6. As cenas das prostituas também não existem na Peregrinação, inventei-as para criar episódios cómicos com Pinto e Cristóvão Borralho. A fala da prostituta sobre a influência do Yin e Yang no sexo, a menção ao Mercado dos Cavalos Magros são do meu romance.
7. Na obra de FMP, nos episódios do Japão, não existe qualquer referência ao suposto casamento de Fernão ou de Zeimoto, nem a Wakasa, que eu encontrei em outras fontes japonesas, depois de grande pesquisa. Ficcionei a história desse casamento, com a ida da personagem ao barco, fazendo dela uma espécie de Madame Butterfly avant la lettre.
8. No filme, Fernão narra a sua 1ª viagem, ainda adolescente, quando servia em casa de uma senhora e teve de fugir para salvar a vida. Apenas isto. Os amores adúlteros e o assassínio de Dona Joana Aires da Silva e de Manuel Freire, o amante, são do meu romance, cuja fonte foram arquivos sobre um escândalo da época. Botelho leva este episódio para o seu filme, embora fazendo de Pinto um segundo amante, a quem a senhora pede que leve um recado … ao amante Manuel Freire.
9. O realizador absorveu ainda outras ideias da minha obra expondo-as como suas: numa das entrevistas, refere-se à magia do número nove, que é um leitmotiv do meu romance.
10. Há ainda outros aspectos, que só podem ser detectados por quem conheça bem os dois livros, como a sequência dos episódios ou juntar as duas viagens a Sumatra num único episódio, como eu fiz.
11. Assim, também me custa a crer que, tendo eu no meu romance as mesmas cenas explícitas da Peregrinação (com textos originais, no início de cada capítulo), Botelho e a sua equipa, depois de terem copiado as inexistentes, tenham tido o trabalho de procurar as das lutas e afins, na imensidade de cenas confusas da obra de Pinto, quando as tinham no meu livro já prontas, com diálogos e tudo.
Chamo-me Deana Barroqueiro, professora de Literatura Portuguesa e escrevo romances históricos de temática portuguesa, sobretudo de personagens desconhecidas da maioria dos portugueses.
João Botelho adaptou no seu filme, sem a devida permissão, parte do meu romance “O Corsário dos Sete Mares” (publicado pela LeYa, em 2012), que me levou 5 anos de trabalho de pesquisa e escrita. Com a agravante de referir nos “media” essas cenas como se fossem da obra de Fernão Mendes Pinto, o que mostra não a ter lido.
Botelho admitiu o plágio num e-mail da Ar de Filmes para a minha editora, porém, continua a insistir no logro, não dando créditos à autora e à obra que lhe serviu de guião.
Ao cotejar o filme de João Botelho com a “Peregrinação” de Fernão Mendes Pinto e com “O Corsário dos Sete Mares”, verificamos que:
1. As cenas do filme que não constam do meu livro são as da morte de Pinto e as da mulher e filhos, tal como a cena das “mantas” voadoras”.
2. As restantes cenas e personagens femininas do filme, exceptuando a rainha da Etiópia, não existem na “Peregrinação” de FMP, são do meu romance, inventadas por mim ou ficcionadas a partir de sugestões do original ou fruto da pesquisa que fiz em documentos portugueses e do Oriente.
3. Não existe nenhuma violação, por António de Faria, na “Peregrinação”, como Botelho afirma que há, numa das suas entrevistas. A violação está no meu romance, embora praticada por Pinto – refere-se ao cap. 47 da sua obra, o episódio da «noiva roubada», que é levada com os irmãos meninos para ser vendida ou resgatada por dinheiro, como era costume. Como o seu destino ficava em aberto eu parti deste episódio para ficcionar uns supostos amores de Pinto que acaba por a violar, algum tempo depois, no barco. Botelho seguiu o “guião” do meu livro, embora com alterações.
4. A personagem da amante chinesa, assim como o seu nome Meng e os seus amores, inventei-os a partir da menção feita no livro de Pinto (cap. 116) aos filhos do português Vasco Calvo – «dois meninos e duas moças”. A cena do filme, em que «Meng», com uma bacia de água perfumada com pétalas de flores, a lavar as cicatrizes das chicotadas que Pinto tem nas costas, é um dos episódios do meu romance que considero melhor conseguidos (a sua foto tem sido reproduzida na maioria dos jornais). A única diferença é que João Botelho coloca a cena em Pequim e não na aldeia junto à muralha da China, onde vivem os condenados a trabalhos forçados.
5. Em Pequim, as cenas da moça que toca, canta e convive com Pinto, ensinando-o a ler mandarim. Nada disto existe na Peregrinação, inventei estas cenas, incluindo poemas e canções chinesas, de que fiz a tradução ou que adaptei (Botelho já confessou ter musicado também um desses poemas), criando de raiz a personagem filha do «monteo» Liu Xugang (o capitão chinês que vai levar Pinto e os companheiros para os trabalhos forçados na Grande Muralha). Na obra de Pinto há apenas uma referência à “mulher do monteo”.
6. As cenas das prostituas também não existem na Peregrinação, inventei-as para criar episódios cómicos com Pinto e Cristóvão Borralho. A fala da prostituta sobre a influência do Yin e Yang no sexo, a menção ao Mercado dos Cavalos Magros são do meu romance.
7. Na obra de FMP, nos episódios do Japão, não existe qualquer referência ao suposto casamento de Fernão ou de Zeimoto, nem a Wakasa, que eu encontrei em outras fontes japonesas, depois de grande pesquisa. Ficcionei a história desse casamento, com a ida da personagem ao barco, fazendo dela uma espécie de Madame Butterfly avant la lettre.
8. No filme, Fernão narra a sua 1ª viagem, ainda adolescente, quando servia em casa de uma senhora e teve de fugir para salvar a vida. Apenas isto. Os amores adúlteros e o assassínio de Dona Joana Aires da Silva e de Manuel Freire, o amante, são do meu romance, cuja fonte foram arquivos sobre um escândalo da época. Botelho leva este episódio para o seu filme, embora fazendo de Pinto um segundo amante, a quem a senhora pede que leve um recado … ao amante Manuel Freire.
9. O realizador absorveu ainda outras ideias da minha obra expondo-as como suas: numa entrevista, refere-se à magia do 9, que é um leitmotiv do meu romance.
10. Há mais casos que só se detectam comparando os dois livros, como a sequência dos episódios ou juntar as duas viagens a Sumatra num só episódio.
Entreguei o caso aos advogados.
Deana Barroqueiro