Uma advertência inicial: Perseguidos é a continuação de um outro, Areias Movediças, e existe precedência. Os dois livros não são estanques e fazem parte de um arco narrativo maior que não será apreendido sem a leitura de Areias Movediças.
O cenário é a Suécia e como se a Suécia não fosse já suficientemente a Norte, a maioria da história desenrola-se no norte da Suécia, numa zona identificada como o pólo de inacessibilidade – o ponto mais equidistante de qualquer possibilidade de contacto com a civilização. Olhando para um mapa é perceptível a razão: as localidades são escritas com bolinhas em cima de vogais (Kåbtåjaure) e tudo é branco.
Sam Berger, antigo polícia, e Molly Blom, antiga espia, escondem-se neste Norte perdido no meio de nenhures em consequência de acontecimentos da tal história mais abrangente relatada em “Areias Movediças” – e que se presumem relacionados com espionagem. Sam encontra-se a recuperar de um esgotamento nervoso total, pelo que esteve a dormir durante duas semanas.
A partir deste local isolado iniciam uma investigação clandestina ao duplo homicídio de uma mãe e do seu bebé. A investigação é instigada por Desiré Rosenqvist, ainda polícia, antiga parceira de Sam Berger e que conduz a investigação oficial.
O enredo é subtilmente escrito, para que pressintamos que Sam Berger e Molly Blom não estão sozinhos na sua investigação. Toda a narrativa é cuidada, os espaços exteriores bem construídos, as situações são verosímeis, ritmo é adequado sem ser histriónico. As mudanças de perspectiva narrativa acertam no ponto, com frequentes passagens da terceira pessoa para a primeira pessoa, retirando-nos de uma visão exterior e desligada e para entrarmos na cabeça de quem vive os acontecimentos.
Os personagens são bem desenhados, com tensões mútuas que não são explícitas, mas que se deixam adivinhar. Os diálogos são personalizados, com cada um deles a exprimir-se de forma própria, o que lhes dá profundidade.
Dentro daquilo a que hoje se chama o policial nórdico, sem dúvida que Arne Dahl consegue um equilíbrio muito interessante de qualidade literária, um contraste forte entre paisagens límpidas e personagens calcinados, situações cativantes e um bom ritmo, tortuosamente verosímil.
Jan Arnald, que assina os policiais como Arne Dahl, leva já vários livros publicados e mesmo adaptados para a televisão e é um dos autores suecos mais vendidos. A D. Quixote edita assim 412 páginas de um policial sólido, de um autor que se destaca e que merece ser seguido.
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