home Antologia, LITERATURA Poesia – Mário Cesariny (Assírio & Alvim, 2017)

Poesia – Mário Cesariny (Assírio & Alvim, 2017)

No dia em que relembramos o desaparecimento de Mário Cesariny, tido por muitos como o expoente máximo do surrealismo português e injustamente arredado do Olimpo europeu (e global) deste movimento, nada melhor do que explorar o volume que reúne a sua poesia editada na Assírio & Alvim, por ordem cronológica de publicação, com notas, prefácio e edição de Perfecto E. Cuadrado. De fora fica muita da sua obra, extensa e por vezes de difícil catalogação, que será organizada em novos volumes no futuro próximo.

Neste volume encontramos seis livros de poesia do mestre, num período que se estende desde 1956 (com o indispensável Manual da Prestidigitação) até 1989, data em que foi publicado O Virgem Negra. No entanto, o capítulo mais interessante, pela sua diversidade e pela antevisão que permite do que está ainda por organizar e publicar, intitula-se “Outros Poemas” e inclui muita da literatura mais híbrida que Cesariny cultivou ao longa da sua carreira.

 

 

Sem pretensões de completude ou sequer de qualquer tipo de edição crítica ou definitiva da obra do mestre, este Poesia é uma excelente introdução à escrita e ao imaginário de Mário Cesariny, não só pela diversidade que lhe encontramos, mas por conter poemas chave do seu longo espólio, indispensáveis para qualquer amante da literatura e da poesia, de que deixamos alguns exemplos.

tudo no teu sorriso diz que só
te falta um pretexto para seres
feliz

uma querela talvez chegasse
ou um pequeno pastor que passasse
na estrada, com suas ovelhas

um riso, um pormenor
que no momento se pousasse
e o tornasse melhor

eu
vou pensando em coisas velhas
– sem sombra de desdém! –
na vida
naquele lampejo fugace
que o teu sorriso já não tem

e que é do passado
porque a nossa grande sabedoria
não soube tratar ente tão delicado

e declina, o dia

o pequeno pastor já não vem

(Ode Doméstica – Manual de Prestidigitação)

 

 

Ah
não me venham dizer
oh
não quero saber
ah
quem me dera esquecer
só e incerto é que o poema é aberto
e a Palavra flui inesgotável!
(Migração – Notabilíssima Visão)

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