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Querida Ijeawele (Como Educar Para o Feminismo) – Chimamanda Ngozi Adichie (D. Quixote, 2018)

Ansiava pela chegada deste Querida Ijeawele há algum tempo. Talvez por ter sido mãe recentemente, ou por ter sido mãe de uma menina. Confesso que me deixou impressionada. Existem preconceitos onde nunca imaginei, porque serem tão “normais” e “aceites” que nem pensamos neles.

Desde muito cedo me reconheci como feminista, mas verdadeiramente feminista: acredito na igualdade entre o homem e a mulher. Não considero (desdenho até) que ser feminista implique pensar a mulher como superior ao homem. São ambos seres humanos e devem ser vistos como iguais, sem esquecer, claro, as suas diferenças biológicas.
Quando soube o sexo da criança que tanto desejei ter, o meu primeiro pensamento foi: a minha filha vai sofrer todos os dias pelo simples facto de ser menina. Eu e o pai não “escolhemos” que fosse uma menina. Ela não “escolheu” ser menina. Aconteceu. E mesmo assim tal destino é inevitável.
Tal como eu, a minha filha sofreu discriminação mesmo antes de nascer: nas roupas, brinquedos, livros oferecidos, nas atividades planeadas, nas tarefas que lhe estão pré-atribuídas, como que implícitas; e, pior ainda, será discriminada na escola, no trabalho, nas relações amorosas ou não amorosas, no casamento, etc.
Há uns dias numa loja, quando procurava roupa para a minha bebé (tal como faço sempre, entre a seção de menina e de menino), pedi ajuda, pois não encontrava o que queria. A pergunta imediata, naquela e em todas as outras lojas, surgiu: “é menino ou menina?”. A minha resposta deixou a funcionária de boca aberta, com certeza surpresa com uma resposta tão profunda: “Isso não é relevante. O sexo e a identidade da minha filha não se definem pela cor da roupa que ela usa.” Aparentemente, ninguém tinha questionado o sexismo das lojas de roupas de criança, pelo menos perante aquela funcionária, que empalideceu. Seguiram-se as habituais justificações: “é o normal”, “as pessoas gostam” ou “toda a gente quer”. Mas quem decidiu ser normal eu não poder vestir a minha filha de azul só por ela ser menina?
Eu não quero que a minha filha cresça nesta normalidade! E este livro é uma ajuda para quem quer “educar para o feminismo”. Educar raparigas e rapazes, claro!
Até a minha filha nascer, pensava que na sua geração seria já impossível um mundo em que se discriminasse pessoas pela sua raça, orientação sexual, religião, ou género. Sei agora que estamos a anos-luz de tal desiderato. Talvez nem na geração dos meus bisnetos!
Apesar disso, já existem alguns indícios de mudança. Cada vez mais movimentos, organizados e não organizados, chamam a atenção para este flagelo. Talvez se propicie este crescimento pela existência de veículos como as redes sociais. Talvez porque começa ser estúpido demais que a geração mais culta e educada de sempre, mantenha “tradições” como estas. Certo é que está a acontecer, pelo menos no mundo ocidental, e isso é bom. Pouco mas bom.
Este livro leva-nos à mais profunda reflexão sobre a discriminação de sexos. Não se deixem iludir pelo seu tamanho (94 páginas), pois é poderoso e pode ser (mais) um veículo para, um dia, daqui a duas gerações(?), chegarmos à igualdade.
Recomendo vivamente a feministas e não feministas, nem que seja pela reflexão a que nos obriga.
Leiam, mostrem aos vossos filhos e amigos, falem dele nas Escolas e vamos pensar juntos um mundo melhor.

Texto de Lia Costa

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