Nuno Júdice e a sua poesia foram convidados de honra de mais uma noite de partilha cultural e artística, num Teatro do Campo Alegre completamente esgotado, como é tradição neste evento já mítico do Porto.
O livro A Convergência dos Ventos (Quetzal, 2015) foi o norte magnético para todas as actividades da noite, que se iniciou com uma curta entrevista de vida ao poeta, pela escritora Inês Pedrosa. Os temas foram diversos, entre o início da sua carreira na escrita, que Pedrosa lembrou contar já com 45 anos, e a actualidade.
Recordando a sua estreia em 1972, com A Noção do Poema, nos afamados Cadernos de Poesia da D. Quixote, reeditado recentemente, Júdice falou da importância de Fernando Assis Pacheco e João Bénard da Costa, como pontes com a editora e estímulos para a divulgação dessa primeira colecção de poemas, e da importância que essa obra veio a assumir, sem que próprio tivesse dado por ela.
Referiu ainda a forma como a sua obra naturalmente evoluiu, com uma mudança temática por volta dos anos 80, altura em emigrou para a Suiça e, face à saudade do seu Algarve natal, das praias e do mar português, deixou de parte a poesia hermética e intelectual dos primeiros anos, mais distante dos seus anseios e angústias. Falou-se da introdução da referência directa à política e às realidades económicas na sua escrita mais recente, tendência que assumiu como resposta inevitável ao contexto actual. O seu processo criativo, as diferenças na gestação do texto poético e da prosa, as inspirações e mitos ligados à escrita e aos escritores, foram algumas das restantes temáticas afloradas com a clareza e a suavidade que o caracterizam.
Seguiram-se as leituras, em que o próprio Nuno Júdice foi acompanhado por Ana Celeste Ferreira e Pedro Lamares, com os poemas brilhantemente ilustrados pela projecção das belas e sugestivas ilustrações de Mariana, a Miserável (SITE AQUI).
Teia Campos trouxe o canto andino, para interpretar um poema de Júdice e a noite começou com Vasco Gomes a apresentar “Algures”, momento de expressão dramática e novo circo.
Samuel Úria encheu o palco com o seu talento e carisma cavalheiresco, fechando com chave de ouro nova noite poética. Com a electricidade desligada, naturalmente sobressaiu o seu talento como escritor de canções, com as suas letras inteligentes e irónicas, disfarçadamente ligeiras mas mais profundas do que ao primeiro ouvido possam parecer. Trouxe dois temas do seu mais recente e aclamado Carga de Ombro (2016, Norte Sul/Flor Caveira) – “Dou-me Corda” e “É Preciso Que Eu Diminua” – em versão acústica, a que acrescentou “Para Ninguém”, do álbum Voz e Guitarra 2 (Sony, 2013) e “Empresta-me os Teus Olhos”, já com a electricidade ligada, do seu álbum O Grande Medo do Pequeno Mundo (2013, Norte Sul/Flor Caveira).
Em Fevereiro há mais.