“Não teorizar é também teorizar. O Manifesto Contra-Sexual de Preciado, ancorado em textos canónicos de nomes facilmente reconhecíveis, é um texto radical e agradavelmente (im)perfeito, que pretende “evitar o fechamento do discurso académico, embora continuando a utilizar algumas das suas ferramentas críticas para compreender o que fora excluído dele…”
Peter Brook tenta um malabarismo entre a sua experiência pessoal e a delimitação dos critérios mínimos para que determinado espectáculo possa ser chamado de Teatro.
É então necessário ler Confissões com ressalvas e como o produto de um tempo e contexto literário, partindo depois para representações mais honestas, menos problemáticas e mais feministas do que é ser travesti ou de se retirar prazer de, por momentos e de forma artificial, vestir a pele do nosso outro sexual.
Para além de olhar apenas para o binarismo homem/mulher cis (…), Despentes parte sempre da experiência pessoal para abordar questões diretamente relacionadas com as mulheres, como a violação, a prostituição ou a pornografia, todas elas com direito a um capítulo individual do livro, correndo assim o risco de tornar este manifesto, potencialmente inclusivo de várias vivências do feminino (…), numa história única.
Este livro (…) mostra-se como uma poderosa arma de reflexão do lugar desta identidade, tantas vezes rasurada, das mulheres negras, apanhadas numa luta constante contra o imperialismo branco e patriarcal, à medida que tentam resistir às várias colonizações do corpo sofridas diariamente por mulheres, e em particular, as não brancas.
O género é assim entendido como uma simulação, que, ao ser encenada todos os dias em espaços domésticos e públicos por homens e mulheres, torna-se numa norma hegemónica que domina todos os aspetos da vida diária…
porque insistimos (ainda) na fotografia como coisa de adultos, demitindo-a da literatura infantil e amputando as crianças na tenra idade de uma educação crítica para as imagens?
Assim, as questões da necessidade da representação como natureza primordial do acto criativo, parecem ser o lugar de chegada ou destino de todo o edifício teórico que, neste livro-tese, Delfim Sardo nos propõe. Afinal “O que é representar?”. Parece não existir outra forma de responder a esta interrogação, sobre uma das necessidades mais viscerais da condição humana, senão pela (im)possibilidade do alcance poético…