home Antologia, LITERATURA Terceiro andar sem elevador – Susana M. Marques (Cia. das Letras, 2024)

Terceiro andar sem elevador – Susana M. Marques (Cia. das Letras, 2024)

Finalmente saiu o novo livro de Susana Moreira Marques: Terceiro andar sem elevador. O subtítulo – Notas de Lisboa – assim como o posfácio “Última Nota”, explicam o seu plano: coligir pequenos textos para formar “um álbum em que se percebe uma história maior nos pormenores secundários ou no cenário de fundo de cada imagem.” Como em todos os bons livros, o plano é apenas partida e pretexto, e o seu conteúdo é bem mais profundo e cosmopolita do que o subtítulo indicia.

“Ninguém especula sobre o que faria se tivesse apenas um pouco mais de dinheiro, uma diferença muito pequena (…) nada que faça sonhar. Essa é a escala do dia-a-dia, e há alturas em que parece que é mesmo essa que nos escapa”. Arrisco ser este o desiderato desta compilação de notas: recordar-nos o essencial. Os textos, entre o esquisso, inacabado e passível de acrescentos, e o adágio, registado ao ritmo do quotidiano e resgatado do que nos resta para existir, quando subtraídas as expectativas e as rotinas, são uma celebração da individualidade e do Tempo para parar, observar, registar, prolongar momentos e ideias pela escrita. Um prazer cada vez mais elitista, embora menosprezado.

O que torna o seu trabalho distintivo e imediatamente identificável, para além da óbvia habilidade com palavras e sentidos, é o seu pendor evocativo do comum e do universal, empático sem querer, mesmo que a Lisboa titulada ou a Manhattan omnipresente permaneçam desconhecidas, inacessíveis.

A simplicidade das notas é um meio de comunicação e síntese, mas também de generosidade com o leitor, poupando-o da tão corriqueira saraivada de conclusões e ideias feitas, para o convidar a entrar e preencher os espaços abertos pela sua visão dos temas que aflora: o silêncio, a música, a saudade, a eternidade… Como a autora admite: “Um registo (…) não serve apenas os factos, mas também a imaginação.” e “pode ser mais interessante o que os outros vêem do que aquilo que nós queríamos dizer quando decidimos pegar num papel.”

À boleia deste feliz inventário de esboços, talvez o leitor também, num bom dia, se entregue ao luxo de preencher a folha (ou ecrã) em branco.

Recomendo vivamente. O luxo e o livro.

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