home Didascálias, TEATRO The Swimming Pool Party – Teatro São Luiz, 2/10/2019

The Swimming Pool Party – Teatro São Luiz, 2/10/2019

Chegamos a The Swimming Pool Party sob o olhar altivo dos personagens, vestidos a rigor para a ocasião (figurinos da responsabilidade de Marta Félix e António MV) – a última festa da temporada – que nos aguardavam encostados à piscina (vulgo palco) que teimava em não encher. Algo que por si só soava estranho, ou não fosse o mote deste encontro uma festa na piscina cujo desfecho acabaria por ser um trágico homicídio. A Sala Mário Viegas do Teatro São Luiz – íntima e acolhedora – bem como a proximidade entre actores e plateia fez-nos sentir convidados especiais desta festa, que foi ironizando, através de diálogos bem construídos e diferentes ambientes, a decadência das famílias aburguesadas. Pessoas de classes elevadas, que têm por hábito falar muito, mas pouco sabem o que dizer, que vivem de aparências e de encontros de croquete e rebaixam todos os seres que consideram inferiores. Um estereótipo que ganha vida através dos anfitriões Judi (Mónica Calle) e Eduardo (Álvaro Correia), e dos convidados: Alex (Tiago Vieira), Emily Ann (Inês Vaz), o Embaixador (José Miguel Vitorino) e Natacha (Marta Félix), todas com o seu “quê” de futilidade e superioridade, tão complexas quanto engraçadas.

A piscina que tardava em encher obrigava os anfitriões a esforçarem-se nas desculpas e os convidados a fingir satisfação, trocando impressões sobre o mundo e exaltando as suas falsas conquistas, em conversas de circunstância e danças de conveniência. As excelentes interpretações desviaram-nos, muitas vezes, do foco do homicídio e outras tantas, pensávamos nós, iam-nos dando pistas sobre quem acabaria por ser o infeliz e o seu assassino. Por trabalho ou obrigação, quem também lá estava, “lá atrás, à parte, com as colunas viradas para a plateia”, era a DJ (Sofia Vitória), responsável pela banda sonora desta festa, onde se ouviu salsa, rap e cúmbia, e por marcar o ritmo das cenas com a sua guitarra. E ainda a enfermeira Lavínia (Ana Água) e a costureira e criada de servir Maria de Lourdes (Rute Cardoso), duas personagens genuínas (e muito bem interpretadas, vistas como “bobos da corte”, mas que viriam a ser muito mais do que isso…

Com texto de Ricardo Neves-Neves, esta obra de Mónica Garnel, inspirada em Agatha Christie, passa, num abrir e fechar de olhos e de uma forma inesperada, de palco de uma festa a cenário de um crime. As respostas às perguntas: quem morre? como morre? quem é o culpado? quais as razões para este desfecho?… são, no mínimo, surpreendentes.

Em The Swimming Pool Party todos os ingredientes estiveram presentes: a graça, o contraste dos vários elementos, os diálogos e a história, o mistério e a imprevisibilidade, a profundidade e a verdade dos personagens, a capacidade de improviso, a proximidade do público e o talento dos actores. Talvez fosse difícil pedir mais.

Em cena até dia 13 de Outubro.

Foto © Vitorino Coragem

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