home LP, MÚSICA Wait For Me – Snowpoet (Edition Records, 2021)

Wait For Me – Snowpoet (Edition Records, 2021)

Snowpoet começou por ser um duo (Lauren Kinsella nas letras e voz e Chris Hyson na produção e diversos instrumentos) que se conheceu no Royal College of Music e optou pela electrónica no álbum de estreia. Hoje encontramo-los neste novo Wait For Me em formato de octeto, com saxofone, violino, guitarra, bateria e teclas, e a ambiência que o prepassa é de leveza e inquietação. A voz de Kinsella é puro barro, moldado à medida para se adaptar à manta sonora que Hyson desenrola sob os seus pés. São temas imprevisíveis e de uma organicidade que se entranha em audições sucessivas. Talvez possamos dividir em várias partes este álbum único, com as faixas inaugurais mais dominadoras, como que a captar a nossa atenção, para nos puxar depois de mordido o isco.
Os mantras sonoros e líricos de Kinsella são frequentes e contagiantes, em harmonias vocais ou mesmo vocalizos indecifráveis que, com a arte de Hyson na mesa da mistura, formam o todo inqualificável deste disco. Em entrevistas várias, citam Vulnicura (2015) e Vespertine (2001) da islandesa Björk como álbuns formadores, mas também a importância que artistas tão diversos como Bill Evans, Keith Jarrett e Flying Lotus tiveram no seu percurso. Mas os silêncios dos The The, o timbre de Elizabeth Frasier (Massive Attack, Cocteau Twins), a mecanicidade de Laurie Anderson ou a spoken word de Ursula Rucker surgiram também no nosso radar ao escutar este Wait For Me.
Depois encontramos pequenas surpresas como “Burn Bright”, em que o ritmo das letras é conjugado na perfeição com o arranjo de cordas e o piano, para uma daquelas músicas que fazem todo um disco valer a pena. Como esta, todas as faixas parecem conter uma história distinta, quando não directamente nas palavras (como em “Floating Practice”), nas composições e na forma como são abordadas. São exercícios de sensibilidade e equilíbrio, em versão lo-fi frequentemente, mas também capazes de nos fazer mexer e sonhar dias melhores, pois convida à positividade e aos espaços abertos. O piano mágico de “Sky Thinking”, o exercício de abandono que pode ser “Teers” e o olá de braços abertos com que somos brindados na “Roots” inagural são alguns dos inúmeros argumentos a favor deste grande disco.
Uma experiência encantatória, perfeita para contrariar o peso do Inverno e da solidão.

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