O Alive está vivo! Com onze aninhos de existência, o antigo Optimus Alive tornou-se, realmente, no festival com o melhor cartaz. Começou por competir com o Super Bock Super Rock para hoje ser comparável apenas a festivais de dimensão estelar, tanto na Europa como na América. E não será fácil juntar bandas de renome mundial no mesmo dia e, mesmo assim, permitir aos seus frequentadores que as vejam (quase) todas. Foi o meu caso. Mas a minha perspetiva deste festival não será tão centrada nas bandas maravilhosas que vi, nos concertos enérgicos ou (algumas) desilusões que pudessem ter aparecido pelo meio, mas antes na descrição da primeira vez que fui ao Alive e não vim embora a prometer não regressar.
Todos os anos, o excesso de gente dá-me a volta ao estômago. Peço sempre aos santos e ao Álvaro Covões que alarguem o espaço sem aumentar a lotação, mas parecem fazer precisamente o oposto do pretendido. Todos os anos também se ouve mais espanhol, inglês e alguma outra língua nórdica entre o holandês e o sueco. Obrigado, senhores estrangeiros, por cá virem deixar os vossos salários chorudos mas, por favor, sejam civilizados!
A quinta feira dia 12 começou morna. Sendo dia de trabalho, com todos na expectativa de ver os cabeças de cartaz, fiz uma incursão pelo Palco Comédia. Ainda tive oportunidade de ver três atuações e agradecer a tenda climatizada num dia de calor acima do normal. O Jel assumiu a responsabilidade e eu aceitei lá ficar enquanto tive vontade de rir. Não tive oportunidade de regressar, ainda que, claramente, a existência deste palco seja uma excelente ideia. Como disse o Rui Xará “mesmo que seja o único festival a investir num palco comédia, o Rock in Rio está a fazer grande concorrência com um palco que é uma comédia”.
O Palco Sagres também teve o seu brilho especial, neste dia. O público, maioritariamente vestido de preto, foi deambulando para ver Jain e Wolf Alice e, só depois, se dirigir ao Palco NOS. No final da noite, presenteou tudo e todos com um Sampha extraordinário. Contudo, o melhor concerto durou uma hora, curtinha e ainda durante o dia, em que Nine Inch Nails deixaram uma “Hurt” sentida que nos deixou sedentos de mais.
Obviamente, nada disso importa no dia em que The National e Queens of the Stone Age estão presentes no Palco NOS. Pareceu-me que ambas as bandas tinham um número de fãs equilibrado entre a audiência e que quem ouviu os primeiros não ficou para os seguintes e vice-versa. E ainda bem! Porque, também neste dia, o Palco Sagres e até o Palco Clubbing estavam recheados de boa música e bons músicos. Comecei em Kaleo e Black Rebel Motorcycle Club, para depois ainda ir ouvir Eels e um pouco de Yo La Tengo. De referir que BRMC teve um público muito composto, apesar da hora tão inicial, e deixou pedidos de mais.
Com o cancelamento dos The Kooks e a passagem dos Blossoms para o palco principal, houve mais espaço, literal e temporal, para passear entre músicas e, pela primeira vez, perceber o mundo que existia atrás dos palcos, na zona do coreto e até na restauração. Espaço também para reflectir um pouco acerca do que significa hoje a expressão “festival urbano” e de como uma geração presa às redes sociais escolhe comunicar através da roupa, do glitter na cara ou dos telemóveis sempre na mão.
https://www.youtube.com/watch?v=f4rvhnunRwU
The National, pelo ritmo natural que possuem, conseguiram um concerto quente e próximo de quem deles gosta. Mas os verdadeiros furacões foram os Queens of the Stone Age. Um Josh Homme completamente diferente do que havia visto em Paredes de Coura há muitos anos atrás, onde até circulava o boato de que teria uma prótese numa perna, tal a inércia. Desta vez, a banda abraçou a sua natureza e espalhou a magia das guitarras. Não me lembro de ver tanta gente aos saltos, durante um período tão longo e com tanta energia.
No final, a dúvida sobre para que palco seguir. Tinha o Branko, os Future Islands e Chvches no Palco Sagres e os Two Door Cinema Club no NOS, completamente à minha disposição. Optei pelos últimos e não me arrependi. Com uma fasquia bem elevada a atingir, conseguiram-no em grande, plenos de energia.
O final do dia serviu também para perceber o transporte usado por quem a casa torna, entre comboio, uber ou táxi. As filas eram intermináveis e dolorosas depois de um dia tão intenso. Ainda que tenha melhorado ligeiramente em relação a anos anteriores, esta espera pode ser desesperante.
O último dia começou mais cedo que o habitual. Correr para ficar na frente e ver o Eddie Vedder a uns metros custou-me a sesta, mas valeu por tudo. De pedra e cal na frente do palco NOS, salvo para ir ao wc, dar uma ou outra entrevista e beber mais uma cerveja estupidamente cara, pude ver todo o alinhamento do dia, atenta aos donos no palco.
The Last Internationale pareceram ter ali caído com muita sorte e uma camisola da selecção nacional não bastava para disfarçar, até o guitarrista falar em português perfeito e dizer que era açoriano. Tudo fez sentido nesse momento. Abriram caminho para os Alice in Chains, obrigados a tocar de dia, tal como Franz Ferdinand, para que Jack White pudesse brilhar no escuro. Nenhum concerto desta noite foi particularmente brilhante. Franz Ferdinand estão em forma, Alice in Chains revisitaram o grunge e provocaram algumas lágrimas e Jack White foi, igual a si mesmo, genialmente contido. Estavam as alegadas cinquenta e cinco mil pessoas todas à espera de uma só banda: Pearl Jam.
A banda apareceu e tocou as músicas que os fizeram famosos. Deixaram cair “Yellow Ledbetter” por falta de tempo, mas presentearam-nos com “Imagine” do John Lennon e a versão do clássico do Neil Young “Keep on Rockin’ in the Free World” com um Jack White surpresa na guitarra. Mas os verdadeiros fãs não foram esquecidos e algumas canções de Vitalogy, Vs, No Code e Yield foram-se sucedendo. Foi mágico, mas poderia ter sido ainda mais. Mesmo em frente ao Eddie Vedder, não consigo ignorar que não voltarei a vê-los num concerto mais íntimo e, isso, deixa-me algo desapontada. A gravação constante do concerto por telemóveis alheios impede um disfrute tranquilo do momento, e faz-me dar razão ao James Maynard Keenan dos Tool ao expulsar do concerto quem o faça. Seria um aspecto a melhorar em 2019.
No geral, o Alive foi tudo o que prometia e mais! Surpreendentemente, o “Coachella wannabe” de Lisboa esteve à altura, trouxe energia, alegria, risos e bons momentos. Mal posso esperar pelo próximo!
Texto de Catarina Mendes
Mais textos sobre Música AQUI.