Todos os pretextos são bons para ver e ouvir alguns dos melhores músicos de Jazz vivos, principalmente quando o seu objectivo, como ocorreu durante o concerto na Casa da Música, é tentar acompanhar um septuagenário (são 77 anos de vida!!) chamado Billy Hart, que domina a arte das baquetas como um adolescente em pico de forma.
Entre estes quatro músicos de excelência, estava um convidado especial, de seu nome Joshua Redman, com o saxofone a seu cargo. Com ele partilharam o palco dois membros do quarteto de Billy Hart que nos deu o excelente álbum All Our Reasons (ECM, 2012): Ethan Iverson no piano e Ben Street no contrabaixo.
Foi deste registo que saíu grande parte do alinhamento do concerto na Sala Suggia, com Hart a tomar o microfone entre temas para, com boa disposição e humor, apresentar as composições e os elementos da banda, sempre com pequenas histórias que puseram o público a sorrir.
Um solo de bateria abria quase todos os temas, surpreendendo o público com a pujança das pancadas e a critividade temerária dos ritmos. Billy Hart impunha-se naturalmente, com a sua hábil gestão dos tempos, deixando frequentemente o acompanhamento para dar largas à imaginação, juntando o seu solo a outro que decorresse ou criando novos caminhos, que encaixavam na perfeição no improviso dos outros músicos, até ao regresso final à melodia base.
Sem tempo para paragens ou abrandamentos, temas como “Song for Balkeys”, “Duchess”, “Chamber Music” ou “Neon” foram ordenados numa sequência que procurou simultaneamente maximizar as potencialidades de cada composição e compôr um todo orgânico, objectivo largamente superado, com a ajuda dos solos alternados de cada músico, e natural destaque para a nitidez e qualidade do sopro de Joshua Redman, cujo fraseado é reconhecível até debaixo de água, tal o ímpeto que imprime a cada interpretação. Dono de uma carreira ímpar, recheada de álbuns indispensáveis a qualquer discoteca de jazz digna desse nome, Redman de bom grado cedeu sempre o protagonismo ao patriarca do grupo, não sem marcar cada intervenção com detalhes deliciosos de harmonizações inusitadas ou cadências imprevistas.
Em contraste com estas actuações poderosas, Ben Street respondeu com descrição e competência extrema, com um desempenho sem mácula e Ethan Iverson, pianista ex-líder dos fabulosos The Bad Plus, quando chamado a mostrar o que valia, deixava trasparecer em cada improviso esse seu carácter iconoclasta, com escolhas harmónicas arrojadas que deixaram água na boca por um já muito aguardado álbum a solo ou como líder de banda que tarda em aparecer.
Uma noite de gala para uma casa cheia de público, por vezes um pouco apático, com solos magníficos a passarem sem qualquer aplauso, mas sempre atento.
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