home LP, MÚSICA Brad Mehldau Trio – CCB, 6/10/2019

Brad Mehldau Trio – CCB, 6/10/2019

Quando falamos de músicos como Brad Mehldau, é fácil resvalar para a banalidade e o elogio carregado de predicados por razões óbvias. Da sua geração, não há pianista de jazz que se equipare ao nível técnico e criativo ou sequer na frequência com que grava e inova no seu percurso estético. O seu álbum mais recente chama-se Finding Gabriel (Nonesuch, 2019) e nele desdobra-se em múltiplos teclados, loops e vozes, exclusivamente em originais que só surpreendem os mais incautos. Este concerto com o seu trio (Larry Grenadier no contrabaixo e Jeff Ballard na bateria, irrepreensíveis) no Centro Cultural de Belém foi de uma inusitada tranquilidade e lirismo, decifrados com a surpresa do encore.
O espectáculo abre com um novo original sem título do pianista americano, os músicos ainda a lerem a pauta, num registo modal e toada constante, ideal para captar a atenção do público e aquecer os motores desta máquina de ritmo a seis mãos. O alinhamento não foi longo (oito músicas apenas), mas cada melodia foi aproveitada para extrair as suas possibilidades de brilhantismo, com um Mehldau inspirado a liderar as festividades.
Entre standards e reminiscências de álbuns injustamente esquecidos ou mal amados da sua discografia como Ode e Highway Rider, houve ainda oportunidade para solos de excelência, raramente brindados com os merecidos aplausos do público, numa apatia desconcertante que optamos atribuir ao cansaço antecipado de quem está prestes a iniciar nova semana e não a uma qualquer incapacidade colectiva.
“Tweaky” veio com dedicatória para alguém especial do público, que mais tarde identificamos como Fleurine (que toca a 24 de Outubro no Pequeno Auditório do CCB), esposa do músico, guitarrista cantautora e dona de uma voz cristalina, como pudemos confirmar no dueto cantado em português que fechou a noite. Todo o alinhamento, mas mais do que isso o modo como foi abordado pelo trio, teve ressonâncias desta presença, com uma fluidez romântica transversal, em que as habituais versões jazz de clássicos pop e rock deram lugar a Cole Porter e melodias imortais como “Tenderly”. Ao contrário do que aconteceria com qualquer outro músico, tal não foi impedimento às surpresas na interpretação e opções harmónicas inovadoras a que já nos habituou este virtuoso. Mais um concerto para guardar no álbum de memórias, na esperança de que o regresso a Portugal não tarde, talvez a solo, com o “seu” Bach ao piano.

Alinhamento

Untitled
Good old days
Tweaky
From this moment on Cole porter
I should care
Highway rider

Encore
Tenderly
Sonhando (com Fleurine)

Os nosso agradecimentos à Incubadora D´Artes

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