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Entrevista: Sara Carinhas

Última Memória de Sara Carinhas regressou ao palco na Casa da Artes de Famalicão (CAF), integrada no ciclo Poética da Palavra (programa completo AQUI), que inclui diversas performances. Foi na CAF que aproveitamos a ocasião para conhecer melhor uma das melhores actrizes da sua geração e perceber a génese deste espectáculo especial e sem tempo.

Qual é a tua última memória? E qual a importância dela na tua vida e no teu trabalho?
Ontem tivemos aqui uma conversa com estudantes de teatro [ACE Famalicão] sobre isso. Gostei imenso de conversar com eles. Às vezes é uma palavra muito aberta, abstrata. Serve para tudo. E por isso é que, a certa altura, quando comecei a tentar tirar, assim, um sumo do porquê deste espetáculo, percebi que até é mais sobre o medo de a perder. Fazendo spoiler, veio mesmo da minha avó ter tido Alzheimer, e de ficar essa espécie de fantasma familiar, se é uma coisa que se herda, se não. Surgiu, por um lado, esta questão de pensar quem somos e como é que nos construímos através disso, mas também de que vamos ao longo da vida dando importância a memórias diferentes, e isso também muda como nos vemos. Acho que é isso que me interessa.

O que muda de cada vez que fazes o espetáculo? Tens alguma preocupação de manter o fio condutor, ou chega uma altura que pensas “se calhar posso fazer algo novo aqui”?
O espetáculo tem uma qualidade de depender daquele dia, mas é só durante alguns momentos, porque há uma relação grande com as pessoas que estão… Isso há sempre no teatro. Há um mecanismo inicial em que as pessoas podem, de certa forma, participar de uma parte da dramaturgia que é delas, não é minha. Então, isso já muda o espetáculo. O facto de ser intimista também [interfere], porque eu não posso propor estarmos todos no mesmo barco e depois abandonar as pessoas. Mas, ainda que tenha sido eu a escrever o texto, por sobrevivência eu tenho que respeitar as palavras, mesmo que com o tempo me apeteça mudar. Ainda que, em geral, quando sou eu a encenar, tenha essa liberdade. Mudo muito os espetáculos ao longo do seu caminho. Cada vez que nós o [espectáculo] levamos a algum lugar, como, em geral, ou pomos a plateia no palco, ou estamos num palco que é sempre muito diferente em termos de dimensões, tenho uma equipa que também brinca comigo: sobre o piano, não tenho que estar sempre do mesmo lado, se isto ficar melhor assim fazemos… Portanto, também nos adaptamos muito às salas, e eu gosto muito disso. Vamos experimentando. Às vezes tem que se confiar no material que se escreveu e perceber que, com o tempo, ele até significa mais do que tu projectaste.

Num espectáculo sobre memória, como se agarra um material tão volúvel, em que tudo se mistura e mesmo quando se tenta recuperar nunca é igual ao que era antes?
A ideia deste medo da perda da memória também é uma desculpa para pegar em materiais que me são muito queridos e universais, por serem aqueles onde vamos procurá-la – fotografias e livros – objetos que estão mortos, no sentido em que já foram feitos, mas sobrevivem fisicamente e tu tentas através deles entrar numa relação com aquilo que te faz recordar. Eventualmente depois se as fotografias forem tuas é uma coisa, se o livro for de outra pessoa é outra, mas têm o papel de pistas e de te fazer acreditar que as imagens fazem esse jogo do “já não sei se isto é meu, se foi alguém que me contou, mas vou construir por cima disso”. Pensar na memória também como uma construção e neste caso brincar muito e tentar fazê-lo com as pessoas, que ficam sem saber se eu estou a dizer a verdade, se aquilo é meu, se é delas, se é de outra pessoa. Desfazer a ideia de (a memória) ser intransmissível, tentar que tudo fique um bocadinho misturado.

O teu pai é o Nuno Carinhas. Que peso é que a carreira dele teve na tua carreira, nas tuas escolhas, nas tuas memórias?
Naturalmente eu pude ver e ouvir coisas deste ambiente do teatro e das artes, porque estavam lá em casa. Eventualmente por acaso na adolescência fui estudar ciências, mas depois também me desviei. Às vezes também o fazemos para ser contra aquilo que as pessoas estão à espera. Adorava usar microscópios e abrir coelhos, mas depois não considerava que a minha cabeça pensava daquela forma. E fui para as artes, mas depois também acabei a estudar letras, na faculdade de letras. Na verdade ainda hoje eu penso um bocadinho na ideia de profissão de uma forma que não é estanque, porque não consigo expressar-me de uma só maneira. As pessoas que são as nossas pessoas influenciam-nos, mas às vezes até somos mais influenciados por quem um dia nos faz uma pergunta ou nos abre uma porta. De resto, somos todos muito respeitadoras do espaço de cada um. E conseguimos olhar para os objetos artísticos uns dos outros sem interferir. Obviamente que ele está aqui nas memórias, mas sobretudo os avós, portanto já a mãe dele ou o pai dele. Eu fui mais para essa geração, que eu vi perder a memória.

Em conversa com uma amiga, a Marta Bernardes, sobre a esquerda e a direita, ela usava muitas vezes a palavra luta. Perguntei-lhe porque é que os ideais de direita parecem ser tidos como normais, verdades consumadas e os de esquerda envolvem sempre combate, luta e um léxico com mais de um século. Porque é que a direita soube atualizar-se e jogar o jogo de acordo com o que vai recebendo e a esquerda continua na luta? Ela tem uma perspectiva original sobre o capital (essa palavra muito pesada cunhada pelo Marx) como vantagem e não como dinheiro. Ou seja, se a liberdade de escolha em todos os aspectos da vida é associada à esquerda, esse é que devia ser o privilégio desejado e fonte de ambição constante. Como é que tu lidas, pessoal e artisticamente, com este atrito constante e cada vez mais exagerado e como te influencia?
Pessoalmente esta falta de atualização da esquerda é um bocado estranha, porque tento perceber o que se passa dos dois “lados”. A resposta é complexa, porque tem várias vertentes. A arte ainda pode ocupar um lugar muito especial de poder propor imagens, ideias, num sítio que tem algo de abstrato ainda, alguma liberdade imagética, que abre outros caminhos de comunicação. Ocupa essa zona de algo que não tem que ser sempre ultra direto. Mas por mais que se deseje que a pessoa leve para casa alguma coisa, aquilo eventualmente esvai-se. Se falarmos do teatro então há essa magia de “eu estive lá, eu senti aquilo, eu vi. E mais ninguém esteve.” E eventualmente o que se deseja é que a pessoa tenha visto ou pensado nalguma coisa que não tinha pensado antes. Isso é o que eu ainda acho que faz sentido fazer e às vezes é mais eficaz, com muitas aspas, do que usar as palavras para tudo.
Uma das coisas que eu pensei neste espetáculo é que, embora ele possa, aparentemente, ser mais sinuoso, porque o fim do espetáculo é um pouco mais duro, eu tinha sempre de ter uma proposta. Eu não gosto de espetáculos sem luz. E então, a minha proposta era pelo amor. E depois percebi que essa palavra é muito ridicularizada, que parece esvaziada ou como abraçarmos as árvores… Metafísica. E eu questiono-me imenso sobre isso. Para já, de que é que falamos quando falamos de amor (que também é uma peça), porque falamos todos de coisas diferentes. Uma das coisas que eu tento dizer (que não é minha, dos livros que eu li) é porque é que em vez de acharmos que é um sentimento que acontece porque gostamos de alguém, não é uma ação? Só que tudo isto parece só conversa. E o problema, muitas vezes, de se sentir que a esquerda não tem força, é porque perde muito tempo, outra vez com aspas, a defender-se.

Defender-se e responder. Não faz a agenda, responde à agenda.
E isso é difícil, eu não tenho a solução. De repente, perante uma pessoa que mente, está-se a perder tempo, no sentido em que aquela outra pessoa ocupa o espaço de um monstro e as outras pessoas estão com fita cola ou uns pensos rápidos a tentar curar as feridas. Eventualmente, tínhamos que deixar de ter pequeninas esquerdas. Só o ser aceitável existir uma pessoa sentada na Assembleia que se diz de extrema-direita e nós acharmos normal, já é um problema gigante.

A forma como a liberdade de expressão é instrumentalizada para albergar abusos é outro problema.
Misturar opiniões com factos… A humanidade sempre teve isso. Às vezes temos que passar pela zona de dar nomes às coisas que antes não o tinham e estavam invisíveis, mas sempre para chegarmos a um lugar, o utópico máximo, das coisas não precisarem de estar sempre a ser etiquetadas. Só que nós estamos muito longe. A humanidade está cada vez a pôr mais post-its nas testas uns dos outros. Eu sinto isso como artista, por exemplo. “Ah, mas encenas ou és atriz?” Como se as pessoas não pudessem fazer o que querem. As pessoas para fazerem uma obra têm que fazer várias coisas. Seja em que área for. Isto é um exemplo de um caminho. Tudo é mais fácil se for encaixotável.

É tudo compartimentalizado para se transformar em dados, em informação.
É como quando as pessoas dizem: “ah, eu não vejo cores” ou “eu não tenho nada contra vocês, acho que toda a gente deveria amar”. Mas temos que falar sobre isto. Estamos todos bem e felizes, só que, antes de chegarmos a esse sítio que ainda bem que tu desejas, temos mesmo que nomear isto. E actos. Actos. Mas há muitos degraus, ainda a subir.

O ativismo na arte, principalmente no teatro, muitas vezes não acaba por ser a morte do silêncio, da subtileza, do subtexto? Sobra espaço para o espectador pensar? Demasiadas vezes é como se o encenador anunciasse: “Eu tenho alguma virtude, como sabes. E quero que tu vejas a minha virtude e o meu texto vai nesse sentido, ok? Não é sobre mim, mas é um bocadinho, ok?” (risos) Interessa-te esse equilíbrio também no que fazes e na arte que apresentas? E como se atinge esse desiderato?
Isso é importante… Esta coisa do pós-contemporâneo, pós-dramático e quando se começou a chegar a estas várias perspectivas, a alta ficção, a alta referencialidade, essas várias palavras à volta da mesma ideia de que partimos de nós, é também algo a desfazer, porque eu acho que partimos sempre de nós, portanto, a escrita mesmo que seja sobre as árvores do jardim, eventualmente eu fui ter com as árvores do jardim porque há alguma coisa em mim que me aproxima delas.

Uma memória?
Por exemplo. Ou uma identificação, não é? Então, dentro disso, talvez também nos seja útil deixarmos de dar nomes a essa forma de chegar às coisas. Depois, há a enorme responsabilidade em estares num palco e as pessoas terem pago bilhete para te ouvir e te ver durante aquele tempo. O que é que tu dizes às pessoas? O que tens para dizer? As pessoas não têm que ter sempre o peso de salvar a humanidade; simplesmente, eu acho que se tiverem, mais uma vez, algum amor pelo que estão a passar ou a dizer, às vezes é suficiente. O melhor da arte em geral é quando nós deixamos o espectador entrar e decidir o que está a ver. O mesmo sobre o trabalho do ator. Prefiro quando não entendo totalmente o que ele está fazer do que quando ele mostra que está triste e, por cima de estar triste, está a chorar. Prefiro ficar na dúvida e pensar que já vi aquela expressão em algum sítio. Sou a favor desse espaço. É claro que as palavras são finitas, limitativas, acabam por escolher. Assim que se expõe a palavra, começamos a dizer coisas eventualmente mais fechadas do que na dança, ou outras expressões. E aí, eu própria, neste espetáculo, tento não fazer isso e posso incorrer nesse erro. Mas tento mais fazer perguntas do que afirmações.

Não quer dizer que seja um erro, atenção. É uma escolha.
Sim, é verdade. Mas, obviamente, também é natural. Podemos falar da febre do Ainda Estou Aqui (filme de Walter Salles, premiado nos Oscars 2024), que tem muitas coisas fantásticas à volta. Mas uma delas tem a ver com qualquer coisa no filme, no tema do filme, que está a responder diretamente ao que as pessoas estão a sentir que precisam. Eu acho que isso tem tudo a ver com o que estavas a dizer do equilíbrio. O equilíbrio entre, sim, eu tenho um ponto de vista, mas sim, tu também podes entrar. Algumas pessoas vieram discutir comigo sobre coisas que eu disse, na Última Memória, sobre o Alzheimer ou sobre a relação com a minha avó e que não concordavam comigo. E essa é a parte interessante. Outra coisa que experimentei a sério neste espetáculo foi não me divorciar de estar com as pessoas antes e depois do espetáculo. O espetáculo não fica só naquele momento convencional de que agora nos sentamos para ouvir uma coisa, agora batemos palmas, e vamos dizer: “bem, como é que eu faço para estar com as pessoas mesmo?” É algo a pensar sobre [o Teatro] como um espaço de comunidade, que também está a desaparecer.

Numa entrevista recente do Édouard Louis no Brasil, respondendo sobre a democratização da Arte, ele falou de uma pergunta que fizeram a Sartre a propósito de um famoso ensaio que escreveu sobre o Teatro: porque é que o Teatro é burguês? Sartre respondeu: talvez seja mais importante perceber quando é que o Teatro se tornou burguês e foi roubado pela classe dominante para dele fazer um objecto de distinção, quando ao longo da sua história, da época clássica de Sófocles, Ésquilo passando pela época vitoriana de Shakespeare, sempre foi feito para todos os públicos. A questão para ti: como se inverte isto? Como é que o teatro se re-democratiza?
Acho que, mais uma vez, tem a ver com destruir algumas imagens. O Brasil, por exemplo, não tem comparação connosco. É um continente. Tem um trabalho grande de relação com a comunidade à volta. Eles não são capazes de ter um museu numa região em que não saibam exatamente quem é que vive ali. Vi isso acontecer no Rio de Janeiro. Vais ao museu e o rapaz que está a fazer a visita guiada é negro, foi favelado e está a falar com crianças que olham para ele a pensar “eu posso vir a ser uma pessoa que faz uma visita guiada num museu.” E explica: este museu foi feito em cima de uma favela, estamos num sítio que se chamava X, explica a exposição toda, que era de artistas negros, etc. E as pessoas que estão a ir ao museu, estão a ir desde pequeninos a velhotes. Depois têm a entrada franca, não se paga nada. Quanto ao teatro aqui, é um luxo. As pessoas não têm dinheiro para ir ao teatro e não são chamadas para ir e às vezes até poderiam. E muitas pessoas que sabem que são postas fora da sociedade em geral e das artes em particular, mesmo que arriscassem ir, não se sentiriam confortáveis naqueles edifícios, que não são para elas. É um problema que só se dissolvia se de facto as coisas fossem feitas para as pessoas.

E as condições que são dadas a determinadas artes, não é? O teatro é “highbrow”, a pintura não, a pintura já podes ir ao museu e até que te enquadras…
E mesmo assim sentes-te em excesso. E quando os eventos de repente são de entrada livre, ou são jardins, ou as pessoas pensam que os seus corpos podem ocupar os espaços, estão cheios. Não estou a dizer com isto que é tudo uma questão de bilhetes. É mesmo o enquadramento. Mas tem a ver com a forma como comunicas. Mesmo a ideia de comunidade dentro da nossa área é flutuante. Às vezes ela existe nas dificuldades, mas muitas vezes não. E depois seria essencial mudar a relação com as escolas completamente, mas de forma sistemática e pensada. Tinha que haver mesmo um diálogo entre as escolas, as bibliotecas, os museus e as câmaras.

Uma linha geral, apartidária: educar uma geração de seres pensantes e independentes. Por falar em gerações mais novas, tu és uma formadora também. Como vês esta geração que agora se forma (vamos na Z, não é)? (Risos) Como fazes para quebrar aquele “gap” geracional e de atenção? Sei que me estou a desviar um bocado do espetáculo, mas acho que está tudo ligado.
Quando eu dou aulas, sei que é um cliché, sou sempre muito feliz e aprendo imenso sobre aquilo que eu acho que sei e não sei. Às vezes vou cheia de preconceitos mais ou menos inconscientes, e sou sempre surpreendida pela positiva. E depende de com quem estou a falar. Com frequência não são atores, são pessoas muito diferentes, porque às vezes dou aulas em escolas artísticas, mas também aulas de escrita. Às vezes misturo jovens com pessoas mais velhas. Então, dependendo, às vezes muda muito a resposta que te posso dar, mas sobre a juventude, está a passar uma fase muito dura. São uma geração incrível, mas das muitas turmas com que me cruzei, senti é que já estão cansados. Já sentem muita culpa, muito peso, e essa parte é triste. Vivem um bocado nessa contradição ambulante.

Que conselhos, como profissional nesta área, oferecerias a alguém que esteja a começar a criar um espectáculo, neste mundo em que tudo parece já estar inventado?

Eu questiono-me sobre isso muitas vezes, portanto, também é verdade que é preciso explicar que, mesmo as pessoas que supostamente o fazem, também têm dúvidas, sempre. Então, não há aqueles que fazem, que sabem fazer e que têm a certeza, e os outros. Muitos dias nos questionamos se vale a pena, porque é mal pago, porque é precário, porque fazemos durante meses espetáculos que depois às vezes ficam quatro dias em cena. É verdade que se formos ao lado prático de vivermos disto, não vou mentir, é duríssimo. Mas quanto mais o mundo endurece, mais é preciso seguir esses instintos do “eu tenho alguma coisa que precisava de partilhar”, que esperemos seja uma coisa boa e não destrutiva, mas se quiseres falar de destruição, acho que também deves, acho que toda a gente devia poder construir as suas coisas. Estou a falar do teatro e de uma forma da criação também muito amorosa, ou seja, porque nem tudo tem que ser especialíssimo e servir para montes de coisas. Às vezes tem tudo a ver com as pessoas que escolhemos para nos acompanhar no projecto. Na Última Memória, parece que fiz tudo sozinha. Nada mais longe da verdade. Eu tive uma equipe enorme de pessoas a visitar-me, a dar a sua opinião, a fazer-me perguntas, a sugerir coisas, a construir um espetáculo comigo. E, se não fosse com estas pessoas, não saía de todo um espetáculo assim. Em conclusão, desde que se queira dizer alguma coisa e juntar pessoas em torno disso, em comunidade, dou toda a força do mundo para as pessoas não desistirem de o fazer.

A última pergunta é sobre o amor. A despedida do teu e-mail reza: “desejando resistência, coragem e gestos de amor.” O Amor ainda é um acto de resistência? E aplica-se também aos inimigos ou, usando a linguagem dramática/literária, aos antagonistas, que estimulam a mudança na personagem, impelem-na para a ação?
Isso é uma ótima pergunta. Eu sou a favor disso, pelo menos teoricamente. Sou mais a favor mais do diálogo e do questionamento do que da porrada e da raiva. Mas a raiva também é uma coisa a pensar…

A arte sem fricção, sinceramente, também não é muito interessante.
E o amor não é também necessariamente uma coisa só com o coraçãozinho de cor-de-rosa. É uma conjugação. Mas tem que ter a curiosidade, tem que ter o respeito, tem que ter a escuta. Às vezes é preciso gritar mais alto. A resposta é bem difícil, no sentido em que eu sei a teoria mas é difícil pôr em prática. Eu fico muito nervosa quando pessoas reagem de formas gratuitamente agressivas a coisas que não merecem isso. Fico fisicamente alterada. E tenho tido dificuldade em traduzir essa raiva que estou a sentir. Por isso é que, muitas vezes, o teatro ajuda. Não quero dizer que seja só para responder. Mas às vezes a raiva também pode ser um catalisador, se não for para perder totalmente também o norte e a razão. Embora discuta muito com amigos meus queridos, que também já querem ir com pedras para a rua, que eu entendo, uma pessoa questiona-se. Se começarem a bater-nos e a atirar em nós, vamos lá para a conversa? Isso é legítimo. A pergunta que me estavas a fazer também sobre a ideia da direita e da esquerda… O que é que nós fazemos? Essa é a grande pergunta.

Review de Última Memória AQUI

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