Dez faixas em meia hora para um disco fiel ao seu título e à filosofia que preside a todas as escolhas que ouvimos. Silente é da família lexical do silêncio e as melodias seguem o mesmo trilho. Ambiental e hipnótica, em loops equilibrados pela voz bem desenhada e harmoniosa de Filipa Caetano, a música surge sem pressa nem destino certo, aberta mas habitada de espectros e presenças fortes, catalisando energias latentes e relaxando a tensão dos dias longos e confinados.
O projecto de Miguel Dias (autor da integralidade dos temas e de quase toda a instrumentação) conta também com a colaboração do escritor/poeta Frederico Pedreira nas letras e com participações pontuais de outros três Miguéis: Gomes (guitarras em 2 temas e algumas percussões), Ramos (baixo em 3 temas) e Ângelo (baterias e percussões). O mínimo em termos instrumentais é colocado ao serviço das palavras e das composições e o resultado é um álbum feito de equilíbrios frágeis e harmonias dolentes e curtas, num continuo que faz parecer o álbum uma unidade artificialmente fragmentada. A maioria das melodias é instrumental, com prevalência para os acordes menores e os ambientes mais sombrios. Talvez esteja aqui um dos álbuns mais discretos de 2020, bem camuflado abaixo do radar dos habituais, mas todo o destaque que lhe puder ser oferecido será de elementar justiça.
Para ouvir e repetir.
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