home Didascálias, TEATRO Malfadadas – TNDMII, 24-07-2019

Malfadadas – TNDMII, 24-07-2019

Criada pela fadista Aldina Duarte, pelo pianista e compositor Filipe Raposo, pela actriz Isabel Abreu e pelo encenador Miguel Loureiro, Malfadadas é o resultado de uma colaboração, em que experimentam o desconforto de explorar territórios que lhes são desconhecidos.
Ao subir do pano, somos de imediato apresentados a duas “Anna”. Chegam de braço dado, vestidas de preto, sapatos de salto alto e óculos escuros e dizem ser “um só, ter um só passado, um só coração, um só futuro”. Duas personalidades divergentes que habitam numa só. Uma história que se vai cruzando com quatro outras. Quatro fados. Quatro malfadados destinos de quatro figuras femininas do teatro do século XX e da mitologia literária. Em palco, Anna é Isabel Abreu e é Aldina Duarte.
Ao piano, um dos poucos adereços e elemento central, que rodando nos vai situando no enredo, Filipe Raposo, por vezes músico, por vezes malfadado, com a música de Bach e as suas composições originais, dando-nos a conhecer um percurso sem princípio, meio e fim, onde se vão misturando histórias que são lugares comuns. Com a brilhante interpretação de Isabel Abreu, os textos de Miguel Loureiro, com excertos de Tennessee Williams, Eugene O’Neill, Eurípedes e Sophia de Mello Breyner e as quatro histórias são cantadas por Aldina Duarte, através do seu fado imponente.
Neste percurso, Isabel e Aldina são Anna mas também são Blanche DuBois, de Um Eléctrico Chamado Desejo, cuja realidade se vai misturando com a fantasia; Mary Tyrone, alienada e viciada em morfina, de Jornada Para a Noite; Medeia, figura da mitologia grega, cega por vingança, que mata os filhos e que nela carrega tanto ódio como amor; e Eurídice, a ninfa de Orfeu que acaba encarcerada no mundo dos mortos, para nunca mais regressar aos braços de seu amado.
Malfadadas é tragédia e desamparo, mas também amor, vingança, religião e loucura. Em entrevista a Maria João Guardão, Filipe Raposo diz mesmo que é “essa travessia, desde o momento em que nascemos até ao momento em que morremos”. E, apesar de ganhar forma na Anna, na Blanche, na Mary, na Medeia e na Eurídice, é uma jornada, transversal ao tempo, que é de todos nós. Um mal-estar com origem na nossa, por vezes, insustentável existência, o “fardo” que cada um de nós se permite carregar.

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