Em palco na Sala Azul do Teatro Aberto, até ao próximo dia 1 de Março, encontramos o clássico de Hermann Broch A Criada Zerlina, protagonizada por Luísa Cruz, numa interpretação que lhe valeu os aplausos da crítica e um Globo de Ouro.
A narrativa começa na total escuridão e decorre sempre na penumbra, onde Luísa Cruz – Zerlina – conta a A. as suas memórias e se assume como única referência de luz no decorrer de todo o espectáculo. Aliás, tratando-se de um monólogo, de uma história contada na primeira pessoa a um interlocutor invisível, Zerlina e o seu extraordinário poder de storytelling é tudo quanto existe nesta peça, conduzindo-nos pelo seu passado de amores consumados e de mágoas persistentes, onde residem a aceitação pelas díspares condições sociais e um inconformismo maior perante o agradecimento que lhe foi negado do que perante a justiça que não foi feita.
A trama é envolvente – porque o texto é belíssimo! – e persiste no espectador a vontade de lhe conhecer o final mas, apesar do brilhantismo de Luísa Cruz, torna-se fatigante a luta contra a falta de acção e a escuridão constantes, a par com o espaço confinado entre as filas do cadeiral, onde o espectador dificilmente consegue alterar a sua posição e permanecer confortável ao longo de uma hora e quarenta minutos.
Os olhos estão postos em Zerlina desde o início ao fim, no seu vestido de veludo vermelho, farol no palco negro onde os móveis espartanos e escuros se perdem, e o respeito imenso pela sua interpretação cresce no espectador. São as suas expressões, as suas inflexões na voz, a sua subtil gestualidade que elevam o espectáculo e perante isso nos curvamos e aplaudimos. Apesar de esporadicamente existir um narrador cuja voz ressoa pela sala, a sua intervenção é de tal forma pontual que não chega a deixar marca ou a criar qualquer ruptura ou elemento que possa constituir referência.
Espectáculo na dependência total da performance de uma actriz, é um desafio aos sentidos e à atenção mas, confessamos, acolhemos com algum alívio o final da peça.
FICHA ARTÍSTICA
VERSÃO_António S. Ribeiro e José Ribeiro da Fonte
TRADUÇÃO_Suzana Muñoz
ENCENAÇÃO_João Botelho
CENOGRAFIA_Pedro Cabrita Reis
DESENHO DE LUZ_Nuno Meira
SONOPLASTIA_Sérgio Milhano
PRODUÇÃO EXECUTIVA_Nuno Pratas
INTERPRETAÇÃO_Luísa Cruz
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