Imaginem um convite para uma noite descontraída de convívio com um dos vossos guitarristas favoritos, (por mero acaso, um dos melhores da História) em que ele aparecia munido da sua guitarra e recriava alguns dos seus melhores temas, acompanhados por alguns dos seus amigos . É este o conceito idealizado para sustentar a mais recente digressão mundial de Pat Metheny.
Os Dead Combo estão cada vez menos sozinhos e este Odeon Hotel, produzido por Alain Johannes (que já gravou com PJ Harvey e Queens of the Stone Age), apresenta-se mesmo como um trabalho de banda, que vagueia entre diferentes estilos e latitudes, do blues ao fado, passando pelas mornas de Cabo Verde ou pelo flamenco.
A nós, que tentamos recriar ambientes e momentos, resta-nos esta (tentativa de) evocar um concerto especial pelo todo público/banda que urdiu, em que noções como fã ou conhecedor foram irrelevantes, perante a ubiquidade dos sentimentos e do respeito mútuo, da gigantesca corrente eléctrica que atravessou os presentes, que espantou, para depois apaziguar e gerar o prazer que fabrica memórias.
Quando nada o faria esperar, num dos dias de programação mais bipolar dos sete anos do NOS Primavera Sound, o divertimento chegou de braço dado com a boa música.
Chuva num festival ao ar livre, como o NOS Primavera Sound, condena as actividades à partida. As selfies ficam desfocadas por falta de luz, os vídeos fraquinhos pelo mesmo motivo, as movimentações no recinto são mais pensadas, para poupar a farpela comprada de propósito para o novo look festivaleiro, e a coroa de flores na cabeça perde …
Os talentos vocais foram acompanhados pelas tiradas bem dispostas para descomprimir, como que a lembrar-nos que tudo aquilo não passa de Arte.
A cada momento, Lemper adicionava um novo tempero, uma inflexão nunca antes escutada, garantindo que a sua performance nunca se fica pela repetição. De sorriso ocasional, olhos rasgados, esta alemã transcende-se em placo, demonstrando o que distingue uma diva de uma mera cantora.
Ela tinha que ser mais forte, mais macho que os machos, e mais bêbada que todos os outros cantores», comenta um dos intervenientes. Numa sociedade homofóbica, misógina e patriarcal, tornou-se numa fora da lei sexual.
Naquela noite fria de Primavera, o CAE da Figueira da Foz foi pequeno para receber aquele alien de 1,93m (mas que em palco parece ter muito mais) – de passaporte britânico mas avesso a fronteiras – um “alien of extraordinary ability”, de acordo com o visto aposto no dito passaporte à entrada dos EUA. Nunca tal expressão terá sido mais bem empregue em alguém, com toda a certeza, quanto em Benjamim Clementine.
Deixámos de ver a Sofia, menina e bem-disposta, para termos em pleno no jardim do CAE, Lince, mulher sedutora, envolvida e perdida na sua música, no seu mundo.