” Este romance longo e poderoso, é uma demonstração plena da capacidade da ficção de explorar as obsessões históricas de um país. Ao longo deste romance, sem termos uma resolução final para o enredo, nem uma explicação cabal sobre a verdade ou falsidade das teorias de conspiração apresentadas, verificamos como a precaridade da vida familiar se constrói sobre crimes históricos passados, que se perpetuam pelo presente e pelas gerações futuras.”
Os melhores livros de 2017 (até agora) no Humor e na literatura de Viagem.
Deste romance de estreia de Ottessa Moshfegh se poderia dizer que tem tudo para falhar. Tem tudo, mas não há nada nele que confirme esse vaticínio de catástrofe. Porque se salva da asfixia causada por uma primeira pessoa sufocante, um enredo concentracionário encurralado pela mágoa, castigado pelo ressentimento, consumido por uma raiva que poderia escaqueirar …
Com o Verão tórrido a não desarmar, nada melhor que mergulhar num livrinho e divagar por palavras e mundos alheios. O primeiro semestre de 2017 foi rico em pérolas literárias, merecedoras de um balanço dos lançamentos que nos impressionaram, necessariamente subjectivo e sujeito a reparos. Decidimos dividir a listagem por 4 artigos e 10 secções …
Nos doze contos que compõem As Coisas Que Perdemos no Fogo, Mariana Enriquez põe ao serviço da escrita princípios como fantástico, sobrenatural e, num quadrante distante, naturalismo. Que a escritora abarque tão admiravelmente esse inconciliável já deve ser tido por indício da sua força expressiva e da segurança da sua arte. Talvez não se devesse …
Rainer Maria Rilke é um exemplo raro na literatura moderna de um poeta que nunca desejou escapar às duras exigências da sua natureza humana ou da sua arte, alguém cuja obra amadureceu em pleno conjunto com a sua vida. Todos os leitores têm presente nas suas mentes diferentes imagens de poetas, cada um com distintas …
Tanto a novela epónima, quanto os sete contos que completam A Guerra de Samuel, desenvolvem uma premissa essencial: a espiritualidade num tempo irremediavelmente (?) laico. Estas ficções de Paulo Varela Gomes põem em confronto a tradição espiritual, de matriz judaico-cristã, e diversas manifestações do materialismo. Teorético, político, ou adstrito às práticas quotidianas, esse materialismo é sempre …
O conhecido filósofo português José Gil, é autor de obras publicadas sobre Fernando Pessoa como O Devir-Eu de Fernando Pessoa e Fernando Pessoa ou a Metafísica das Sensações, obras que usam a hermenêutica filosófica como uma metodologia interpretativa das obras e do pensar de Fernando Pessoa. Ritmos e Visões (Relógio d´Água, 2016), é o seu mais …
A revolução é um momento, o revolucionário, todos os momentos José António Forte (1931-1988) foi um dos escritores do célebre grupo do Café Gelo (a que esta edição “aumentada” de Uma Faca Nos Dentes – o título completo inclui ainda E Outros Textos – pela Antígona dedica um capítulo, com escritos do próprio sobre este movimento) que …
A documentação extensiva, aliada à narrativa-comentário aos eventos que, embora imitando um registo historiográfico, se apoia predominantemente numa linguagem de tom lírico, resulta num equilíbrio que faz de El-Rei Junot um poderoso manual do zeitgeist europeu da altura.