Filho da Mãe de Hugo Gonçalves, publicado pela Companhia das Letras, é uma boa surpresa no panorama atual da literatura nacional. Marcado por um estilo simples, linear e de fácil compreensão, está longe de ser um livro básico, dos que lemos uma vez sem exemplo e que não nos fazem perguntar “quem escreveu”. Hugo Gonçalves …
“talvez seja esse mesmo trauma transgeracional que habita n’Essa Gente, gente que escreve e sobre quem se escreve, que coabita na mesma cidade marcada por festas e atos de violência sem nunca verdadeiramente se cruzarem”
“A Vida Sonhada das Boas Esposas” não é, de modo algum, um livro simples. Antes se mostra extraordinariamente profundo na mensagem que pretende transmitir e que encontra eco, se não no todo pelo menos em parte, no viver e no sentir de cada um de nós.
Um “estorvo” altamente bem conseguido que nos perturba, mas que nos deixa com vontade de iniciar ou simplesmente não cessar a viagem.
A Companhia das Letras traz-nos este livro em que Afonso Cruz nos obriga a mergulhar na nossa humanidade, nos mais elementares conceitos do Bem e do Mal, na reflexão sobre a felicidade e o amor.
É deste misto de coloquialidade e escrita detalhada, plena de trabalho criativo, que vive este livro de estreia, anunciando uma voz literária em português que ainda nos vai trazer muita felicidade.
Uma obra do tipo da que aqui lemos – os cem melhores poemas portugueses dos últimos cem anos – para poder trazer algo de efetivamente interessante e que satisfizesse a avidez do leitor, teria de cumprir uma destas finalidades. E é com alguma pena que dizemos que não o faz.
Mas continua nessa fatalidade do quotidiano em busca daquele raio de luz que consiga rompê-lo, criar beleza a partir dele.
São 173 páginas onde sobressai a ideia de fatalidade do que é básico.
No momento da sua morte, Benjamim verá, pela primeira vez, o filme da sua vida, sem lente protectora, sem filtros ou jogos de luzes, confessando a angústia de conhecer o verdadeiro homem que foi.
A história é-nos contada, quase na sua totalidade, na primeira pessoa, como um diário escrito pelo protagonista, Mário Cardoso, actor carioca de meia-idade e ídolo caído das novelas que, consciente da sua decadência, tenta recuperar o brilho de outrora regressando ao início de tudo, ao teatro, com a encenação de uma versão de “Rei Lear”, tragédia shakesperiana de 1606.