Nos doze contos que compõem As Coisas Que Perdemos no Fogo, Mariana Enriquez põe ao serviço da escrita princípios como fantástico, sobrenatural e, num quadrante distante, naturalismo. Que a escritora abarque tão admiravelmente esse inconciliável já deve ser tido por indício da sua força expressiva e da segurança da sua arte. Talvez não se devesse …
Rainer Maria Rilke é um exemplo raro na literatura moderna de um poeta que nunca desejou escapar às duras exigências da sua natureza humana ou da sua arte, alguém cuja obra amadureceu em pleno conjunto com a sua vida. Todos os leitores têm presente nas suas mentes diferentes imagens de poetas, cada um com distintas …
Tanto a novela epónima, quanto os sete contos que completam A Guerra de Samuel, desenvolvem uma premissa essencial: a espiritualidade num tempo irremediavelmente (?) laico. Estas ficções de Paulo Varela Gomes põem em confronto a tradição espiritual, de matriz judaico-cristã, e diversas manifestações do materialismo. Teorético, político, ou adstrito às práticas quotidianas, esse materialismo é sempre …
O conhecido filósofo português José Gil, é autor de obras publicadas sobre Fernando Pessoa como O Devir-Eu de Fernando Pessoa e Fernando Pessoa ou a Metafísica das Sensações, obras que usam a hermenêutica filosófica como uma metodologia interpretativa das obras e do pensar de Fernando Pessoa. Ritmos e Visões (Relógio d´Água, 2016), é o seu mais …
A revolução é um momento, o revolucionário, todos os momentos José António Forte (1931-1988) foi um dos escritores do célebre grupo do Café Gelo (a que esta edição “aumentada” de Uma Faca Nos Dentes – o título completo inclui ainda E Outros Textos – pela Antígona dedica um capítulo, com escritos do próprio sobre este movimento) que …
A documentação extensiva, aliada à narrativa-comentário aos eventos que, embora imitando um registo historiográfico, se apoia predominantemente numa linguagem de tom lírico, resulta num equilíbrio que faz de El-Rei Junot um poderoso manual do zeitgeist europeu da altura.
Como Falar Com Raparigas Em Festas (Bertrand Editora, 2017), de Neil Gaiman, pode ser estranho, até de difícil digestão, mas de certeza compensador para o leitor. A narrativa é pouco convencional para um bedéfilo habituado a super-heróis, mas o texto oferece muito mais do que um enredo de homens e mulheres vestidos com roupas interiores berrantes …
Fascinante e despretensioso, no fundo nada mais é do que um excelente pretexto para discorrer sobre um tema fascinante e central da nossa cultura ocidental, com a clareza a que Miguel já nos habituou, a que associa uma capacidade inata de centrar a reflexão no essencial, sem derivas ou artifícios.
Um livro que se lê com inegável gosto, pelo requinte dos ambientes e da concepção das personagens em curtas passagens. Uma verdadeira masterclass de escrita por uma fracção ínfima do preço destas “formações”.
Novela de Xadrez foi o derradeiro livro do austríaco Stefan Zweig, de onde Wes Anderson surripiou muitas das ideias que fazem a magia do argumento e realização de The Grand Budapest Hotel.