Philip Roth (1933-2018)

O momento já estava a ser preparado por Roth há anos, para que se eliminasse a incógnita inevitável.
O momento já estava a ser preparado por Roth há anos, para que se eliminasse a incógnita inevitável.
Romance de espionagem, mas também de testemunho de uma época conturbada da História moderna, Confissão de Um Assassino é, sobretudo, um romance de personagem.
A ironia é que fica quase tudo pela alusão e presságio, e o livro termina rodeado de uma atmosfera etérea (“nada disto é real.” – pg. 121), deixando-nos a sensação desarmante de testemunhar a falsa simplicidade das grandes obras literárias.
É tamanha a arte da narrativa que nada é inocente.
“o autor não deixa de nos fazer voar sobre os telhados, um voar lúgubre, uma visitação à condição humana, aos desejos de um velho por uma rapariga jovem, à estupidez da morte, da incapacidade, da deficiência, do divórcio, do vício e da solidão, com meros vislumbres do riso e do amor que aqui, não aparece nunca como solução mas antes como aprendizagem.”
Marca de Água é a obra de um esteta, de um homem nervoso e moral, um sábio filósofo. Ao negar-se a encarnar esses papéis, Brodsky está a criar uma de muitas máscaras que a sua escrita ergue diante do leitor.
O livro vive da importância das coisas simples, das forças telúricas da fome e do frio, simplicidade que se estende às palavras de London, às personagens, aos cenários. Sem figuras de estilo complexas, ou adjectivação criativa, o léxico usado pelo escritor é o das pedras, da água, do cansaço, da dor, do amor, da raiva, da vingança, presentes em Buck em estado bruto.
“A história tem destas coisas. Se Donald Trump não tivesse chegado à Casa Branca, este livro manter-se-ia esquecido até que alguém minimamente parecido lá chegasse.”
Por entre as diferentes épocas de dois séculos contíguos, o autor navega avisadamente e, anunciando expressamente onde nos devemos situar, ao leitor é vedado deixar-se guiar pelas referências ou até pelos recursos linguísticos que, aqui e ali, claramente lhe serviriam de GPS.
“(…) foi a indiferença das pessoas que permitiu que tudo acontecesse. Não quero de forma alguma associar esta realidade a pessoas específicas (…). O facto de nos sentarmos hoje de novo em frente da televisão a assistir a esta história terrível na Síria, o modo como centenas de pessoas fogem de lá. E depois não deixamos de passar alegremente o nosso serão. Não mudamos a nossa vida por causa disso.”